Para candidato do PSDB, adversários preferem enfrentar capitão reformado a tucano
Thais Bilenky | Folha de S. Paulo
SÃO PAULO - Em resposta a declarações como a do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso sobre eventual aliança entre PT e o PSDB para derrotar Jair Bolsonaro (PSL), o tucano Geraldo Alckmin tem dito que a narrativa interessa a seus adversários.
"O sonho de todo mundo é ir com Bolsonaro para o segundo turno", diz o presidenciável a interlocutores, quando questionado sobre a aventada aliança com o PT.
De acordo com o raciocínio exposto pelo candidato do PSDB, o capitão reformado seria mais derrotável do que ele próprio pelo perfil desagregador. Assim, para o PT conviria descrer publicamente de Alckmin e trabalhar para ter Bolsonaro como adversário no segundo turno.
Foi o que fez na segunda (20) Fernando Haddad (PT), candidato a vice de Luiz Inácio Lula da Silva e potencial cabeça da chapa petista. "Alckmin tem duas dificuldades. Uma é a existência de Bolsonaro. Outra é a bola de ferro no pé do governo Temer", disse o ex-prefeito paulistano no programa Canal Livre, da Band, reforçando a associação entre o tucano e o presidente mais rejeitado da história recente do país.
A tese de que a eleição de outubro repetirá a polarização entre PT e PSDB embasa a estratégia de campanha de Alckmin, que tenta barrar Bolsonaro e retomar o eleitorado azul que hoje simpatiza com o militar.
No entanto, aliados do tucano recuaram uma casa em sua convicção. Avaliam que a resiliência de Bolsonaro nas pesquisas acende um sinal de alerta não apenas para o tucano, mas também para o PT.
Para o PSDB, porque nem no segundo turno as pesquisas são amplamente confortáveis para Alckmin. Para o PT, porque a rejeição a Lula não é desprezível.
A se somar ao quadro, para alckmistas, Ciro Gomes (PDT) demonstrou reação depois de ser isolado por Lula ao prometer limpar o nome de 63 milhões de endividados e continuou numericamente à frente do tucano nas pesquisas de intenção de voto.
A equipe de Alckmin espera conseguir resultado comparável com a bandeira do fim do voto obrigatório levantada pelo candidato na segunda (20).
A campanha mantém suas fichas apostadas na TV e no rádio, em que Alckmin tem mais de 40% do horário eleitoral.
Além disso, nutre expectativa em relação à vice da chapa. De direita, ligada ao agronegócio e entusiasta da Lava Jato, a senadora Ana Amélia (PP-RS) é a esperança para o avanço da candidatura no Sul.
Escolhido por ela como coordenador da campanha no Rio Grande do Sul, o prefeito de Bento Gonçalves, Guilherme Pasin (PP), concorda com a tese de que o segundo turno será entre Alckmin e Haddad. E espera um encolhimento de Bolsonaro causado especialmente por seu exíguo tempo de TV.
"Acredito que os extremos não se solidificam no nosso país", diz Pasin.
O prefeito compara a situação do capitão reformado coma de Luciana Genro (PSOL), que aparecia no final de agosto de 2016 na disputa municipal em primeiro nas pesquisas com 23%, rejeição de 22% e 12 segundos de TV.
"Pelo sumiço no cenário eleitoral, ela foi definhando e terminou em quarto. Bolsonaro tem nove segundos e rejeição maior. Isso vai reduzindo o universo de captação de votos", afirma Pasin.
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