Resiliência de Bolsonaro e Lula nas sondagens de intenções de voto alerta campanhas; entorno de Alckmin defende postura mais incisiva
Adriana Ferraz, Gilberto Amendola, Marianna Holanda, Ricardo Galhardo, Constança Rezende, Roberta Pennafort e Fabio Leite | O Estado de S.Paulo
Pesquisa Ibope/Estado/TV Globo que mostrou Jair Bolsonaro (PSL) como líder isolado num cenário sem Luiz Inácio Lula da Silva – preso e condenado na Lava Jato – fez algumas das principais campanhas reavaliarem rumos na disputa presidencial nas eleições 2018. A resiliência de Bolsonaro e de Lula nas sondagens de intenções de voto deixou adversários em alerta a pouco mais de uma semana do início do horário eleitoral no rádio e na TV.
Mesmo cumprindo prisão em Curitiba por corrupção e lavagem de dinheiro, o ex-presidente, que foi registrado como candidato do PT, alcança 37% da preferência do eleitorado. Quando o petista é excluído da disputa, Bolsonaro segue líder com 20%, seguido por Marina Silva (12%), da Rede; Ciro Gomes (9%), do PDT; e Geraldo Alckmin(7%), do PSDB. Como Lula está potencialmente inelegível com base na Lei da Ficha Limpa, ele deverá ser substituído por Fernando Haddad, que alcançou 4% na medição do Ibope – a primeira do instituto após o início oficial da campanha.
Segundo analistas, a campanha presidencial está prestes a entrar numa fase decisiva, quando serão testadas a força do palanque eletrônico e a capacidade de transferência de votos de Lula.
A campanha de Alckmin recebeu com apreensão o resultado. A equipe do tucano não esperava que ele aparecesse colado em Bolsonaro, nem mesmo à frente de Marina, mas avaliava que ele teria um patamar de largada mais próximo dos dois dígitos – 8% ou 9% – no cenário sem Lula, após o anúncio do sua aliança com o Centrão e a participação em sabatinas, entrevistas e eventos de campanha.
Contraponto. Com isso, no entorno do candidato, ganhou força o grupo que defende uma postura mais incisiva no debate com adversários diretos, especialmente Bolsonaro, e uma posição mais firme sobre temas polêmicos, como o desarmamento e a defesa das mulheres.
Essa também é a posição de tucanos históricos, para quem Alckmin precisa se contrapor a Bolsonaro numa defesa intransigente dos “valores democráticos” que estão na origem do PSDB. O temor desse grupo é de que Marina capture essa agenda e cresça entre as mulheres e a classe média urbana.
Por enquanto, a campanha tucana não esconde a disposição de ir para o embate com Bolsonaro nas redes sociais. Alckmin mantém o discurso otimista. “É preciso acreditar na campanha. É agora que o povo vai começar a definir seu voto”, disse.
A estratégia da campanha de Ciro é tentar consolidá-lo como o nome da centro-esquerda para ir ao segundo turno. O pedetista vai demarcar como adversários Bolsonaro, Alckmin e Henrique Meirelles (MDB) e, ao mesmo tempo, reforçar críticas ao PT. Primeiro, repetindo que a estratégia de insistir na candidatura Lula é “suicida”, “fraudulenta” e “irresponsável”.
Depois, com a candidatura Haddad já posta, reforçar a ideia de que o ex-prefeito seria mais um “poste” de Lula, o que levaria à eleição de “um candidato que o povo não conhece”. Embora tenha protocolado pedido para visitar o ex-presidente na prisão, Ciro afirmou nesta terça-feira, 21, que “está na fila”, mas não pretende fazer isso durante a campanha.
Para petistas, o fato de 50% dos eleitores de Lula dizerem que vão ou podem votar no ex-prefeito antes mesmo de Haddad ser apresentado como candidato é mais um indício de que dificilmente o partido vai ficar fora do segundo turno, mesmo com Lula preso. “Existe uma transição. As pessoas estão começando a conhecer o Haddad para a hipótese de Lula ser impedido de ser candidato”, disse o ex-presidente do PT Rui Falcão.
A campanha da Rede acredita que o cenário deve ficar mais claro em 15 dias, quando se espera que a situação jurídica de Lula esteja definida. Para o vice na chapa, Eduardo Jorge (PV), Marina, Bolsonaro e Alckmin vão brigar pelo segundo turno e “disputar com as forças do ex-presidente Lula”.
“Essa é uma avaliação dele (Eduardo Jorge). A gente acha que os votos de Lula não necessariamente serão todos transferidos para Haddad e que a parcela desses votos que se torna indecisos deve ser distribuída entre os outros candidatos”, afirmou a coordenadora da campanha da Rede, Andrea Gouveia.
Bolsonaro disse que “esperava mais”, mas que o resultado indica que está “no caminho certo”.
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