- O Estado de S.Paulo
O episódio é deplorável e não há meio termo. A sociedade deve repudiar atos de violência; países democráticos não os concebem nem os aprovam. A política foi inventada para evitá-los e o Estado para puni-los. Contudo, discute-se seu impacto na campanha eleitoral.
O primeiro aspecto será a tensão quanto às ruas. Hoje, os grupos políticos se consideram inimigos, ao invés de adversários. Radicais e provocadores não faltam e fragilizam a paz. Até o dia da eleição, haverá expectativa e torcida para que novos incidentes não ocorram.
De imediato, há a comoção que deve consolidar o patamar de intenção de votos em Jair Bolsonaro que as pesquisas já demonstravam. Possível que até cresça, ainda que dificilmente dispare. O ex-capitão permanecerá um candidato forte. Presume-se que avance ao 2º. turno.
Todavia, manifestações de solidariedade e estimas de restabelecimento não implicam em adesão e declaração de voto. Controverso, Bolsonaro angariou larga rejeição e, com o passar dos dias e a cabeça fria é plausível que a comoção ceda espaço à ponderação.
Passado período protocolar de obsequioso silêncio, o mais provável é que adversários, agora ou no 2º. turno, voltem aos ataques ao candidato e a seu discurso. À vítima não se deve atribuir a culpa, decerto. Mas, a identificação das bandeiras de Bolsonaro com o atentado que o vitimou será inevitável. Ainda mais emocional ficará a campanha. Voltamos à questão inicial: a torcida para que as ruas não saiam do controle.
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* É cientista político e professor do Insper
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