Caso do candidato ao Senado pelo PT mineiro, Miguel Corrêa, e da venda de ‘likes’ é esclarecedor
Todos os fatos relatados sobre a manipulação das eleições americanas de 2016 por meio das redes, em favor de Trump, e acerca de interferências semelhantes em pleitos na Europa, inclusive no plebiscito sobre a saída britânica da UE (Brexit), levaram a Justiça Eleitoral brasileira a se mobilizar diante do pleito deste ano.
Não faltam mesmo motivos para preocupações. A inexorável expansão da internet, para o bem e o mal, criou incontáveis possibilidades de propaganda de candidatos e também de análises. Em si, algo positivo. Mas nem sempre, a depender de cuidados. Em 2014, já houve atenção para o assunto. Sites de políticos com grandes índices de visita passaram a levantar suspeitas do uso de robôs que simulam a ação humana na rede. Mas o avanço tecnológico não para e permite o desenvolvimento constante de novos “negócios” a serem oferecidos a candidatos para elevar artificialmente sua popularidade na internet, aumentando o seu trânsito na rede.
O GLOBO revelou a história emblemática do deputado petista Miguel Corrêa (MG), responsável pela criação de uma malha de influenciadores digitais, para promover ideias e candidatos da esquerda. Ele próprio um deles, aspirante ao Senado.
Pessoas de carne e osso passam a agir na rede como internautas desinteressados que defendem o que pensam e elogiam candidatos. Mas em troca de dinheiro. Quanto mais seguidores tiverem, maior a remuneração. Seria possível embolsar até R$ 1,5 mil neste trabalho, cuja vantagem, em relação aos sistemas automatizados, é afastar suspeitas de que as mensagens partem de robôs.
O esquema foi denunciado por alguém que desistiu da tarefa, e, por precaução, Miguel Corrêa terminou colocado numa geladeira pelo PT mineiro.
Pelo menos um candidato fora do campo da esquerda, Indio da Costa (PSD), hoje em campanha pelo Palácio Guanabara, foi procurado por uma empresa de Corrêa em 2016, quando disputou a prefeitura do Rio. Teria contratado os serviços.
A ligação de Corrêa com o PT facilitou a prestação de serviços a companheiros. Como Wellington Dias, candidato à reeleição ao governo do Piauí, e a senadora Gleisi Hoffmann, que deseja voltar ao Congresso pela Câmara. Há outros.
A conhecida agressividade do PT, já demonstrada em campanhas, passou a ter ao dispor ferramentas sofisticadas. Não faz muito tempo, foi desbaratada uma rede de venda de “likes” no Facebook. Um negócio que também abrange o Instagram e o Twitter. A onda parece irreversível. Uma proteção essencial é a checagem de informações — grupos de jornalismo profissional como O GLOBO exercem esta função —, além de denúncia, investigação e punição por agentes públicos. A necessidade de transparência na política tornou-se absoluta.
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