- Folha de S. Paulo
Resultados das vendas do varejo em setembro foram surpreendentemente ruins
O movimento no comércio está fraco. Enquanto a gente está distraída a discutir planos de inauguração ou mesmo refundação do governo, as vendas no varejo vão mal das pernas pelo menos desde o atropelamento do caminhonaço.
O resultado das vendas de varejo de setembro foi surpreendentemente ruim no país, mostram os dados do IBGE, espantando de economistas ao pessoal da Associação Comercial de São Paulo.
Pode ser passageiro, pois os indicadores do comércio andam voláteis, faz uns dois anos. Pode ser que tenha passado o efeito da liberação do dinheiro das contas do PIS-Pasep. Talvez cada vez mais gente espere as promoções de Black Friday ou, ainda, tenha se sentido receosa com as incertezas da eleição. Não raro, os ânimos e a confiança do consumidor melhoram depois de eleições.
Mas os fatos óbvios são: 1) a média dos salários passou a aumentar ainda mais devagar neste ano; 2) o crescimento anual (em 12 meses) das vendas do varejo dito restrito diminui praticamente desde março (nessa conta, estão excluídos o comércio de veículos e material de construção).
Claro que o paradão caminhoneiro prejudicou esses números. No entanto, quando se comparam as vendas dos meses posteriores ao caminhonaço com as do ano passado, nota-se que setores como móveis e eletrodomésticos vão mal; que tecidos, vestuário e calçados não se recuperaram do tombo de meados de ano.
A venda de combustíveis está em recessão profunda faz uns quatro anos, em parte prejudicada pela alta de preços.
As vendas de veículos, que dependem de crédito, no entanto, vão muito bem, os melhores resultados, de longe. As vendas no varejo dito restrito ainda crescem a 2,8% ao ano, mas até março avançavam no ritmo de 3,8%. As vendas em híper e supermercados aumentaram 4,9% nos últimos 12 meses, ainda bem. No caso de veículos, motos e peças, alta forte, de 14,2%.
Parte da lerdeza dos indicadores do comércio se deve ao colapso da venda de combustíveis. Estão caros, mas pode ser ainda que as pessoas, com menos dinheiro, saiam menos de casa, que empresas façam menos entregas ou tenham inventado meios de poupar gás.
Segundo a Agência Nacional do Petróleo, o volume de vendas de gasolina comum, diesel e de gás liquefeito de petróleo para indústria e comércio está no nível mínimo dos últimos cinco anos. Mesmo o grande aumento das vendas de etanol hidratado, substituto mais barato da gasolina, não compensou outras perdas. Combustíveis têm peso grande no varejo, mais 12%.
As vendas do varejo restrito, o que não inclui veículos e material de construção, ainda têm cara de estagnação. Em setembro, avançavam em ritmo anual inferior ao de setembro de 2014, quando a economia já entrava em recessão, no último ano de Dilma 1.
Sim, a situação melhorou pelo menos em relação a setembro de 2017, quando as vendas ainda encolhiam (sempre quando contadas em 12 meses). O problema é que parece ter acabado o gás, que as vendas perdem ritmo, que se animam por impulsos passageiros, tais como o da liberação do dinheiro das contas inativas do FGTS ou daquele parado no PIS-Pasep.
O rendimento médio do trabalho no trimestre julho-setembro cresceu apenas 0,6% em relação ao trimestre equivalente do ano passado. O total da renda do trabalho no país cresce a 2,2% ao ano (na mesma época de 2017, crescia a 3,5%).
Quanta paciência teria o povo para um outro ano de quase estagnação?
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