- O Tempo (MG)
Não teria importância se não fosse o apoio do núcleo familiar
Daron Acemoglu e James Robison, em seu livro “Por que as Nações Fracassam”, após exaustiva pesquisa histórica, em que cotejaram a experiência de diversas sociedades com as diversas teorias do desenvolvimento, concluíram que a prosperidade ou a miséria são determinadas, em última instância, pela qualidade das instituições.
Mal ou bem, no Brasil, aos trancos e barrancos, entre dois impeachments, turbulências políticas e crises econômicas agudas, consolidamos, nos últimos 34 anos, instituições democráticas e republicanas. Mas tropeços e soluços continuam a ocorrer. É preciso ter claro que nossa democracia é ainda tenra e não tem a solidez institucional dos países avançados europeus e dos Estados Unidos. É preciso cuidar com carinho da herança deixada pela redemocratização de 1985.
Construímos um presidencialismo rígido, com um Congresso forte, acompanhado de um sistema político e partidário frágil, inconsistente e pulverizado. É cada vez mais difícil erguer um ambiente saudável de governabilidade e convivência. Quando os governos perdem sua capacidade de governar, instala-se grave impasse. O parlamentarismo precisa voltar à pauta de debates.
Diante de quadro tão complexo e preocupante, o governo Bolsonaro parece às vezes brincar com fogo, testando a nossa resiliência institucional. A convivência descoordenada, improvisada e sem bússola estratégica entre os núcleos econômico-liberal, militar, familiar-fundamentalista-olavista, jurídico-morista e técnico-político produziu crises desnecessárias e perigosas em curto espaço de tempo. A percepção sobre o futuro não pode ser uma roleta-russa permanente.
O ápice da marcha da insensatez se deu nos recentes, agressivos e despropositados ataques de Olavo de Carvalho aos líderes militares que servem ao governo e aparecem, cada vez mais, como fiadores da democracia, do equilíbrio e do mínimo de bom senso.
O jornalista, astrólogo, “filósofo autodidata”, agora transformado em guru, influenciador digital e ideólogo do bolsonarismo, era até então uma figura obscura, sem nenhuma importância pública ou repercussão acadêmica. É inegável que possui certa erudição. Mas cultiva um anticomunismo antiquado e doentio, enxergando em tudo uma conspiração de um suposto “marxismo cultural”, propugna um antiglobalismo anacrônico e retrógrado, nega realidades como a do aquecimento global e defende uma visão política populista, que nega as instituições e clama por uma relação direta e sem mediações entre o presidente e as massas populares.
A direita, seja liberal, conservadora ou autoritária, nunca teve uma presença tão forte e orgânica na história brasileira como agora.
O “guru da Virgínia” não teria maior importância se não fossem o apoio explícito do núcleo familiar-fundamentalista e a posição reticente de nosso principal mandatário.
Na era do populismo global, o ideólogo do bolsonarismo abandonou qualquer elegância teórica ou civilidade na discussão, disparando contra seus adversários internos adjetivações grosseiras, desqualificações pessoais inaceitáveis e ataques repugnantes.
As agressões ao vice-presidente Hamilton Mourão, aos generais Santos Cruz e Villas Bôas devem ser repudiadas por todos os democratas. Em nome da democracia e das instituições brasileiras, é preciso interromper essa marcha acelerada para o impasse e o abismo.
*Marcus Pestana é secretário geral do PSDB
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