Analistas projetam queda do PIB no 1º trimestre, o que aumenta o risco de recessão
Cássia Almeida e Bárbara Nóbrega / - O Globo
Caso as estimativas de queda do PIB no primeiro trimestre se confirmem, o Brasil corre risco de entrar em recessão técnica, com dois períodos seguidos de índice negativo, situação que o país não vive desde 2016. Para analistas, os números ruins podem convencer o Congresso da urgência da reforma da Previdência. O governo Bolsonaro vai começar com queda no Produto Interno Bruto( PIB ), se as projeções de analistas para o primeiro trimestre se confirmarem. As previsões vão de -0,4% a -0,1%. E não está descartada a recessão técnica, quando há dois trimestres seguidos de redução no PIB, se houver revisão dos números do último trimestre de 2018, quando o crescimento foi de apenas 0,1%. É uma situação que o país não vive desde o fim da recessão em 2016.
A gravidade dos números, acreditam analistas, evidencia a necessidade de reformas estruturais e deve ajudar os parlamentares a levarem adiante a reforma da Previdência. O economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, cortou a previsão de desempenho da economia entre janeiro e março deste ano de positivo para queda de 0,1% frente ao fim de 2018. No ano, sua expectativa caiu de 1,5% para 1,4%: —Os números foram muito ruins. O varejo dá sinais bastante fracos em março. O quadro é de estagnação, mas pode haver a surpresa de dois trimestres de queda. Não dá para descartar essa possibilidade. Talvez esses números negativos ajudem o Congresso a vera urgência da situação e aprovar a reforma da Previdência.
PIORA GENERALIZADA
O corte nas projeções do ano foi generalizado. O Boletim Focus, que reúne previsões de mais de cem analistas de mercado, mostrou que as estimativas baixaram de 1,7% para 1,49% em apenas uma semana. O próprio governo atualizou sua estimativa diante do crescimento menor para 1,5% este ano. Aqueda de 1,3% na produção industrial de março foi um dos principais motivos para o corte nas previsões: —A indústria teve o papel de trazer o crescimento par abaixo. Do lado da demanda, consumo, investimento e exportação estão ruins. Quase a totalidade dos setor esvai vir pi ordo que no quarto trimestre do ano passado. É uma piora generalizada —afirma Vale.
Silvia Matos, coordenadora técnica do Boletim Macro da Fundação Getulio Vargas (FGV), também está revisando as projeções para baixo. Ela alerta para a segunda quedas e guidado investimento, que deve ter recuo forte no primeiro trimestre. No fim de 2018, o setor teve queda de 2,5%:
— O grande destaque negativo será o investimento. Deve contrair bastante no trimestre. A produção de máquinas e equipamentos, após ter crescido relativamente bem, avançou pouco no início do ano.
A produção e a importação de bens de capital foram muito fracas no trimestre após um fim de ano que já fora ruim. Fernando Montero, economista-chefe da Tullett Prebon Brasil, calcula que o tombo dessa crise que vem desde 2014 éo maior da História, se tomarmos por base aquedado PIB per capita daquele ano até 2020. Um recuo de 0,83% ao ano e de 5,7% no período. —Repetir o desempenho do ano passado é muito pior hoje. Não temos a greve dos caminhoneiros, que tirou meio ponto percentual do PIB em maio. A Argentina está cortando importações, mas em cima de uma base alta. Cada dia é uma desculpa. É eleição, Copa, crise dos Estados Unidos, desaceleração mundial... Será que vai precisar de um mundo ideal, um Brasil ideal, para a gente conseguir crescer 2%? Para Montero, uma saída é aqueda de juros, que, segundo ele, pode acontecer se houver uma sinalização positiva sobre a aprovação da reforma da Previdência: —Há pouca demanda e juros altos. Se a sinalização for que a reforma vai passar, significa que vamos ter mais PIB com menos juros.
DUAS DÉCADAS PERDIDAS
Alberto Ramos, diretor de pesquisa para América Latina do Goldman Sachs, alerta para duas décadas perdidas em 40 anos: “De fato, em duas das quatro décadas mais recentes, o Brasil provavelmente verá um declínio do crescimento do PIB real per capita: os anos 80 e provavelmente os de 2010”. Thiago Xavier, economista da Tendências, está com previsão positiva para o primeiro trimestre de 0,2%, mas já foi o dobro, 0,4%. A projeção para o ano caiu de 2% para 1,6%: — A agropecuária cresceu menos do que esperávamos. Pelo lado da oferta, o que mais decepcionou foi a indústria, já que serviços seguem em reação. Pela demanda, nossas revisões ocorreram principalmente em investimento, especialmente por causada decepção coma construção.
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