Por Carolina Freitas, Isadora Peron, Marcos de Moura e Souza e Cristian Klein | Valor Econômico
SÃO PAULO, BRASÍLIA, BELO HORIZONTE E RIO - Os protestos realizados ontem em 131 cidades, contra a política educacional do governo federal, converteram-se em uma série de atos de oposição ao governo Jair Bolsonaro e se propagaram por todos os Estados e o Distrito Federal - a contabilização foi feita até às 20h.
Organizados por entidades estudantis, MST, CUT e partidos da esquerda como Psol e PT, os protestos se aproximaram em capilaridade àqueles organizados no domingo por apoiadores do presidente Bolsonaro, que foram realizados a favor da aprovação da reforma da Previdência e do pacote anticrime encaminhado ao Congresso pelo ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro, em 156 municípios. Os protestos do dia 15 foram maiores.
Na ocasião, ocorreram atos contra o contingenciamento de gastos no orçamento do Ministério da Educação, também realizados em todos os Estados brasileiros, com engajamento em 198 cidades. A Polícia Militar de cada região estimou 20 mil pessoas na Esplanada dos Ministérios, em Brasília. No Rio e em São Paulo, a PM não divulgou números de participantes das manifestações, que aconteceram na orla de Copacabana e na avenida Paulista.
Nas redes sociais, as manifestações de rua começaram a semana com 16,7 milhões de citações nas redes sociais, na ressaca dos atos bolsonaristas de domingo, segundo mapeamento realizado pela consultoria .Map. Nos dias seguintes, houve queda nas repercussões referentes aos atos e protestos. Postagens sobre os protestos oposicionistas realizados ontem somaram 6,8 milhões de repercussões nas redes na terça, e caíram para 4,7 milhões na quarta-feira. Ontem, os manifestantes mostraram o melhor desempenho em engajamento e geraram 6,84 milhões de repercussões registradas até às 17h.
No entanto, prevaleceu a reprovação aos atos antigoverno. Na média da semana, as manifestações oposicionistas contaram com 30% de apoio no Twitter e no Facebook. A elevada reprovação é resultado da militância digital bolsonarista, segundo a consultoria, estimulada pelo resultado alcançado com as passeatas de domingo, promovidas em defesa do presidente. No domingo, os atos pró-governo registraram 72% de apoio nas redes sociais durante todo o período analisado.
Ontem, em São Paulo, a concentração de manifestantes iniciou-se na região do Largo da Batata a partir das 17 horas - a Polícia Militar informou que não realizou estimativas sobre a quantidade de pessoas que aderiram ao protesto.
Formada principalmente por estudantes secundaristas e universitários da USP e da Universidade Federal de São Paulo, com idades entre 15 anos e 20 anos, os manifestantes caminharam em direção à Avenida Rebouças e se fixaram em frente ao Museu de Arte de São Paulo (Masp), após as 20 horas.
Com apenas dois carros de som, um principal e outro de apoio, lideranças estudantis chamavam os manifestantes a participar de uma greve geral de caráter nacional programada para acontecer no dia 14 de junho. Na ocasião, opositores do governo vão realizar atos contra a aprovação da reforma da Previdência, que está prevista para ser votada na Câmara dos Deputados até agosto.
Nas ruas, o clima da população que transitava em ônibus e a pé era de apatia. Poucos demonstraram interesse em acompanhar o protesto. Houve pouco policiamento acompanhando o trajeto dos manifestantes.
No Rio, os protestos contra o governo Bolsonaro se espalharam por toda a avenida Rio Branco, no centro da cidade.
Milhares de manifestantes, cerca de um terço das pessoas presentes no protesto realizado há duas semanas, lotaram a principal via do centro carioca, da Candelária à Cinelândia.
No primeiro ato, houve greve e as escolas e universidades não funcionaram, facilitando a mobilização durante todo o dia, que se concentrou já no meio da tarde. Dessa vez, o protesto aconteceu mais rapidamente, depois das 17h, a partir do fim do horário de expediente do funcionalismo público.
Manifestantes seguravam faixas, cartazes e adesivos com palavras de ordem contra a diminuição dos recursos do orçamento de universidade e institutos federais, contra o presidente Bolsonaro e a favor do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Além do já tradicional "Lula Livre", lia-se nos cartazes frases como "Reforma da Presidência", numa ironia à proposta do governo de reformar o sistema de Previdência.
Em Brasília, estudantes atearam fogo em um boneco vestido com a camisa da seleção brasileira que representava o presidente Jair Bolsonaro. O ato ocorreu em frente ao Ministério da Educação (MEC).
"Ô Bolsonaro, seu fascistinha, a juventude vai te colocar na linha", entoavam os alunos.
À medida que os estudantes se aproximavam do prédio do MEC, aumentava a tensão do protesto. De maneira geral, porém, a passeata ocorreu de maneira tranquila e sem registros de incidentes violentos.
Antes de o boneco ser queimado, policiais em motocicletas passaram e usaram spray de pimenta para afastar pessoas que tentavam furar o cordão policial de isolamento, numa tentativa de chegar mais perto do prédio do ministério.
A segurança do MEC foi reforçada. A pedido do ministro da Educação, Abraham Weintraub, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, enviou integrantes da Força Nacional de Segurança para circundar e proteger o edifício.
Durante toda a caminhada, os organizadores pediram para que os manifestantes não entrassem em conflito com a polícia.
O ato começou às 10h, em frente à Biblioteca Nacional, seguiu em marcha por uma pista até o Congresso e retornou pela outra faixa para passar pelo prédio do MEC. O grupo se dispersou por volta das 14h, quando chegou à rodoviária do Plano Piloto.
Segundo a única estimativa oficial divulgada pela Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP-DF), cerca 1,5 mil pessoas estiveram no ato às 11h.
Em Belo Horizonte, as manifestações levaram pais com filhos pequenos para ruas e avenidas da região central da capital mineira.
Em faixas e em slogans em camisetas, os participantes também faziam críticas à reforma da Previdência e a outras medidas adotadas pelo governo Jair Bolsonaro, como o decreto de liberação do porte de armas.
O mote 'Lula Livre' também esteve presente na manifestação.
Sindicatos de professores e de servidores, CUT e outras entidades ajudaram a organizar o ato. A Polícia Militar não fez estimativa de público. Os manifestantes mineiros começaram a se concentrar antes das 17h. Às 20h30 uma multidão bloqueava parcialmente o trânsito em frente à Praça da Estação - endereço preferido por candidatos do PT durante as eleições.
Em Salvador, professores e estudantes iniciaram manifestações no período da manhã no centro da cidade. A concentração começou no Largo do Campo Grande, às 10h30. Manifestantes tomaram todas as faixas da via e depois iniciaram uma passeata por dois quilômetros até a Praça Castro Aves. A manifestação se dispersou às 13h.
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