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Lições para um presidente acidental
Em sua segunda visita ao Brasil (a primeira foi como presidente dos Estados Unidos em 2017), Barack Obama participou em São Paulo de um evento de inovação digital e deixou pelo menos cinco lições para quem interessar possa.
1ª Lição
“Digo aos conservadores que só acreditam no mercado: não pode ter mercado funcionando direito sem ter um governo que funciona, sem estado de direito, sem transparência. Se há corrupção e uma empresa precisa pagar propina, não há bom governo nem um capitalismo que funcione”.
2ª Lição
“A chave do sucesso é a educação. Dar educação e serviços sociais não é caridade, é uma ferramenta de desenvolvimento econômico. Um país que não tem este tipo de investimento nas pessoas, ele provavelmente não será bem-sucedido”.
3ª lição
“O poder de inspirar uma criança é um dos maiores presentes que um professor pode dar. Um mau professor pode te ensinar álgebra e outras coisas. Mas grandes professores conseguem te ajudar a identificar as coisas que impedem você de ser aquele que você quer ser. […] No Brasil há muita gente que poderia estar fazendo coisas incríveis se tivesse a chance”.
4ª Lição
“Algumas vezes, particularmente na América Latina, onde existem profundas divisões políticas entre esquerda e direita, tudo é muito ideológico, vejo que as pessoas não acreditam no governo e no mercado. Não existe um mercado funcional sem um bom governo. E, se você não tem um bom sistema educacional, não tem um bom mercado. Sem isso tudo, não há um bom governo”.
5ª Lição
“As leis de armas nos Estados Unidos não fazem sentido. As pessoas podem comprar qualquer tipo de armamento nas lojas, pela internet… Eu tive que falar com pais de crianças mortas e não pude nem prometer que isso mudaria porque não poderia mudar as leis. Esse foi o dia mais frustrante do meu governo”.
Toffoli, o novo garoto do capitão
Bolo de festa
Poderia ter soado à malvadeza, mas não foi. O presidente Jair Bolsonaro está de fato encantado com o ministro José DiasToffoli, presidente do Supremo Tribunal Federal, que só esta semana tomou dois cafés da manhã com ele no Palácio do Planalto.
O primeiro reuniu os presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado, além de ministros do governo e assessores. O segundo foi mais alegre e descontraído. Bolsonaro e Toffoli até posaram para selfies na companhia de deputadas federais e senadoras.
Foi nessa ocasião que Bolsonaro fez o elogio que ficará para sempre na biografia do mais jovem presidente da história do Supremo:
– [Toffoli] tem sido uma pessoa excepcional. É muito bom nós termos aqui a Justiça ao nosso lado, ao lado do que é certo, ao lado que é razoável e ao lado do que é bom para o nosso Brasil.
O ministros sorriu agradecido. E não passou recibo do fato de Bolsonaro tê-lo usado para sugerir que a Justiça apoia seu governo porque ele é o certo, o razoável e o bom para o Brasil.
Zelasse mais pela imagem do seu cargo, Toffoli deveria ter faltado aos dois cafés da manhã. Ao primeiro porque Bolsonaro queria discutir um pacto entre os poderes da República para que ele possa governar melhor – e a Justiça não deveria meter-se nisso.
Ao segundo café porque nada de relevante se passaria ali, como não se passou. Foi só mais uma jogada de marketing de Bolsonaro para melhorar sua imagem entre as mulheres. E, no entanto, Toffoli concordou em ir para fazer papel de figurante.
Uma comédia de ministro
Em cena, Weintraub
Não fosse incompetente para o cargo que ocupa, nem fizesse tanto mal a professores, alunos e, por tabela, aos seus pais, do ministro Abraham Weintraub, da Educação, até se poderia dizer que é um bom e surpreendente piadista. Ou uma comédia de ministro.
A última dele foi gravar um vídeo imitando o ator Gene Kelly, protagonista de um dos mais famosos musicais de todos os tempos, “Singin’ In The Rain” (Cantando na Chuva), para desmentir que cortara o dinheiro que serviria à reconstrução do Museu Nacional.
Ao som da música composta por Arthur Freed e Nacio Herb Brown, portando um guarda-chuva, Weintraub entra em cena dançando no seu gabinete, olha para a câmera e dá o seu recado. Culpa deputados pela falta da grana. Foi engraçado, mas não convincente.
Os números vividos por ele antes despertaram menos risos. No primeiro, Weintraub reuniu 100 chocolates sobre uma mesa para explicar o corte de 30% na verba para as universidades. Na ocasião, quem fez sucesso foi Bolsonaro ao comer metade de um chocolate.
No número seguinte, o ministro chamou o escritor polonês Franz Kafka, autor de “A Metamorfose”, de Kafta, uma iguaria árabe. Depois, para justificar as notas baixas que tirou como estudante gravou um vídeo mostrando uma cicatriz no ombro direito.
O expediente de Weintraub, ontem, poderia ter terminado sem que ele tivesse praticado mais uma maldade: soltou uma nota incentivando pais de alunos a denunciarem professores de escolas e universidades que estimulem manifestações políticas.
“O MEC está fazendo um esforço muito grande para que o ambiente escolar não seja prejudicado por uma guerra ideológica”, afirmou Weintraub. Ora. Ninguém mais do que ele anima a guerra ideológica no país. Talvez só Bolsonaro. Arriscam-se a dançar.
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