Por Renan Truffi | Valor Econômico
BRASÍLIA - O presidente Jair Bolsonaro afirmou que o Chile “seria hoje uma Cuba” não fosse a atuação contra a esquerda liderada pelo ditador Augusto Pinochet (1915-2006). A afirmação foi feita na saída do Palácio da Alvorada, antes de presidente se dirigir para Anápolis (GO), onde participará de uma cerimônia de recebimento da aeronave KC-390, pela Força Aérea.
Alçado ao comando do país ao liderar um golpe de Estado em 1973 com apoio dos Estados Unidos, o general do Exército Pinochet instaurou uma ditadura no país que promoveu assassinatos e torturas contra militantes de esquerda, artistas, intelectuais e ex-aliados. No campo econômico, patrocinou reformas liberais. Ele governou até 1990 e passou a servir depois como senador vitalício, um cargo criado exclusivamente para ele.
Mais cedo, Bolsonaro publicou um post no Facebook com críticas contra a ex-presidente do Chile, Michelle Bachelet, hoje chefe do Alto Comissariado de Direitos Humanos da ONU, e escreveu que ela, “seguindo a linha do Macron em se intrometer nos assuntos internos e na soberania brasileira, investe contra o Brasil na agenda de direitos humanos (de bandidos), atacando nossos valorosos policiais civis e militares”.
E prosseguiu: “Diz ainda que o Brasil perde espaço democrático, mas se esquece que seu país só não é uma Cuba graças aos que tiveram a coragem de dar um basta à esquerda em 1973, entre esses comunistas o seu pai brigadeiro à epoca”. Bolsonaro se referiu ao general Alberto Bachelet, que foi torturado e assassinado depois de se manter leal ao presidente socialista Salvador Allende na ocasião do golpe militar.
Bolsonaro continuou seus ataques a Bachelet, dizendo que a atual comissária dos Direitos Humanos da ONU trabalha para “vagabundos” e ironizou a morte do pai da ex-presidente.
"Ela [Bachelet] agora vai na agenda de direitos humanos. Está acusando que eu não estou punindo policiais, que estão matando muita gente no Brasil. Essa é acusação dela. Ela está defendendo direitos humanos de vagabundos. Ela diz mais ainda, ela diz que o Brasil está perdendo o seu espaço democrático", disse. "Senhora Michele Bachelet, se não fosse o pessoal do Pinochet derrotar a esquerda em 73, entre eles o teu pai, hoje o Chile seria uma Cuba. Eu acho que não preciso falar mais nada para ela. Quando tem gente que não tem o que fazer, vai lá para a cadeira de Direitos Humanos da ONU", completou.
Alberto Bachelet foi preso três dias depois da queda de Allende e morreu, ainda no cárcere, em 12 de março de 1974. Em 2012, dois coronéis chilenos chegaram a ser presos acusados de torturar e causar a morte do pai da ex-presidente do Chile. Assim como o pai, Michelle também está entre as pessoas torturadas e presas durante a ditadura de Pinochet (1973-1990).
Em entrevista coletiva ontem em Genebra, Suíça, Bachelet afirmou que o espaço democrático no Brasil está encolhendo. Reclamou do aumento da violência policial e da apologia à ditadura. Segundo ela, isso reforça a sensação de impunidade e representa uma ameaça a defensores de direitos humanos.
Reação no Chile
O presidente do Senado do Chile, Jaime Quintana, pediu que a classe política chilena como um todo faça “um rechaço transversal e contundente” às declarações do presidente Jair Bolsonaro contra o pai da de Michelle Bachelet.
“Em matéria de direitos humanos devemos ter uma só linha e um mesmo padrão, onde quer que isso venha a nos levar”, disse o senador, segundo noticiário digital do jornal chileno “La Tercera”. Jaime Quintana, que faz oposição ao presidente Sebastián Piñera, cobrou uma resposta do governo do país.
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