Manolis Glezos ficou conhecido pelo primeiro ato claro de resistência aos nazistas no país
Michele Kambas | Folha de S. Paulo
ATENAS | REUTERS - Manolis Glezos, cujo ato de desafio à ocupação nazista na Grécia durante a Segunda Guerra foi um grito pela resistência do país, morreu nesta segunda-feira (30). Ele tinha 97 anos.
Admirado em todo o espectro político local, Glezos ficou famoso por escalar os muros da Acrópole em 1941 para retirar uma suástica, símbolo nazista, e substituí-la pela bandeira grega.
Foi o primeiro ato claro de resistência aos nazistas, que ocuparam a Grécia entre 1941 e 1944. Por isso, foi condenado à morte, julgado à revelia.
Glezos morreu de falência cardíaca em um hospital em Atenas, no qual foi internado em 18 de março.
O primeiro-ministro grego, Kyriakos Mitsotakis, em um comunicado, chamou-o de "coração de leão" e de "o homem mais gentil". "A morte de Glezos deixa a Grécia mais pobre, mas o legado de sua vida enriquece o país", afirmou.
"Seu exemplo, o de um verdadeiro patriota e lutador, é um farol para todos nós. E nos dá força para nos unirmos para superar as dificuldades, como as que vivemos hoje", disse Mitsotakis, referindo-se à crise do coronavírus.
O ex-primeiro-ministro Alexis Tsipras disse que "Glezos viverá pela eternidade como o símbolo de um combatente que soube se sacrificar por seus semelhantes".
Com sua cabeleira branca e o bigode grosso, Glezos foi uma figura muito conhecida na política grega.
Com quase 90 anos, enfrentou bombas de gás lacrimogêneo da polícia em protestos contra cortes de verbas realizados em troca de ajuda internacional para manter a economia grega à tona entre 2010 e 2015.
Membro do partido socialista Pasok, que representou no Parlamento Europeu, Glezos gradualmente migrou mais à esquerda na política.
Aos 91, em 2014, ele se tornou deputado no Parlamento Europeu como representante do Syriza, partido de esquerda que chegou ao poder em 2015. Renunciou um ano depois.
Questionado sobre o que o manteve na linha de frente da política por tanto tempo, Glezos disse à agência de notícias Reuters em 2012 que foi a lembrança dos camaradas mortos.
"Antes de cada batalha, de cada protesto, dizíamos uns aos outros: 'Se você viver, não me esqueça'. Estou pagando uma dívida aos que perdi naqueles anos difíceis. Meu único arrependimento é não ter feito mais."
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