terça-feira, 31 de março de 2020

Ministro da Defesa chama golpe de 1964 de 'marco para a democracia'

Fernando Azevedo afirmou, em mensagem comemorativa, que ditadura foi importante 'pelo que evitou'

Daniel Gullino | O Globo

BRASÍLIA — O Ministério da Defesa divulgou nesta segunda-feira a ordem do dia alusiva ao dia 31 de março, dia do golpe militar de 1964, que iniciou uma ditadura que durou até 1985. No texto, o ministro Fernando Azevedo e Silva afirma que o "movimento de 1964 é um marco para a democracia brasileira", principalmente "pelo que evitou". A ordem do dia é uma mensagem comemorativa das Forças Armadas que é lida nos quarteis.

No texto, Azevedo afirma que é preciso analisar fatos históricos levando em consideração seu contexto e que o Brasil "reagiu com determinação às ameaças que se formavam àquela época". Essas ameaças, segundo ele, ocorreram no ambiente da Guerra Fria e eram "sonhos com promessas de igualdades fáceis e liberdades mágicas", uma referência ao socialismo e ao comunismo. De acordo com o ministro, "a sociedade brasileira, os empresários e a imprensa entenderam as ameaças" e "as Forças Armadas assumiram a responsabilidade de conter aquela escalada, com todos os desgastes previsíveis".

Azevedo elogia o governo militar, dizendo que levou o país a ter o oitavo maior Produto Interno Bruto (PIB) do mundo. "Aquele foi um período em que o Brasil estava pronto para transformar em prosperidade o seu potencial de riquezas. Faltava a inspiração e um sentido de futuro. Esse caminho foi indicado. Os brasileiros escolheram. Entregaram-se à construção do seu País e passaram a aproveitar as oportunidades que eles mesmos criavam. O Brasil cresceu até alcançar a posição de oitava economia do mundo", diz o texto.

O ministro diz que a Lei da Anistia "permitiu um pacto de pacificação", seguido até hoje, e que os rumos adotados são "aprendizados daqueles tempos difíceis". Também diz que depois disso "o Brasil evoluiu", com o fortalecimento das instituições e com convergência adotada como método, e agora "os brasileiros vivem o pleno exercício da liberdade".

"O Brasil evoluiu, tornou-se mais complexo, mais diversificado e com outros desafios. As instituições foram regeneradas e fortalecidas e assim estabeleceram limites apropriados à prática da democracia. A convergência foi adotada como método para construir a convivência coletiva civilizada. Hoje, os brasileiros vivem o pleno exercício da liberdade e podem continuar a fazer suas escolhas", afirma o texto.

Ele diz que as Forças Armadas acompanharam essas mudanças e que Exército, Marinha e Aeronáutica "continuam a cumprir sua missão constitucional e estão submetidas ao regramento democrático".

Por outro lado, segundo Azevedo, "os países que cederam às promessas de sonhos utópicos, ainda lutam para recuperar a liberdade, a prosperidade, as desigualdades e a civilidade que rege as nações livres", em nova menção ao socialismo.

A mensagem também é assinada pelos comandantes das três forças: general Edson Leal Pujol (Exército), almirante de esquadra Ilques Barbosa Junior (Marinha) e tenente-brigadeiro do ar Antonio Bermudez (Aeronáutica).

No ano passado, a celebração do golpe de 1964 causou polêmica após o presidente Jair Bolsonaro defender as "as comemorações devidas" da data. Depois, Bolsonaro afirmou que a ordem havia sido para "rememorar" e "rever o que está certo e o que está errado". A ordem do dia do ano passado, também assinada por Azevedo e pelos três comandantes, tem semelhanças com a desse ano, como o destaque do contexto da Guerra Fria e o elogio à Lei da Anistia.

As ordens do dia dos dois anos têm semelhanças, Entretanto, o texto de 2019 adotava um tom mais brando, ao referir-se ao 31 de março como um "episódio simbólico", e não um "marco para a democracia". Além disso, falava em "transição para uma democracia" no fim da ditadura, contrariando o discurso do próprio Bolsonaro, que afirma não ter havido uma ditadura entre 1964 e 1985.

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