- O Globo
São os apps de entrega de comida que no momento alimentam as cidades no claustro forçado pela pandemia
O tear mecanizado levou perto de 120 anos para se espalhar fora do continente europeu. Mesmo assim, foi avassalador seu impacto na sociedade.
Já a internet, incluída dentro da terceira onda industrial, em menos de uma década chegou a todo o planeta. São os apps de entrega de comida que no momento alimentam as cidades como Nova York e São Paulo no claustro forçado pela pandemia da Covid-19. No mundo enclausurado, o e-commerce antecipa as cidades futuristas de Asimov e Heinlein: as máquinas já adivinham nossas necessidades diárias.
Meu herói Ray Kurzweil, no que chamou de Lei dos Retornos Acelerados, prevê que a humanidade irá experimentar dois mil anos de mudança tecnológica nos próximos cem anos. Seria como se (num filme) vivêssemos da invenção da agricultura ao surgimento da internet durante as primeiras horas da manhã.
São movimentos rápidos de placas tectônicas, capazes de explicar (em parte) nossa época, radiada pelo ressentimento, ódio e bozoloides. Você imaginar que os carros voadores já se encontram em testes e que os robôs como o Atlas podem cumprir a função de dezenas de trabalhadores explica como aterrorizados, crédulos e catadores de dízimos se juntam para saudar o terraplanismo e lutar contra as vacinas (bem, antes da Covid-19). Eles precisam do medo.
Autores como Ray Kurzweil, Peter Diamandis ou Klaus Schwab soam otimistas frente aos próximos passos do desenvolvimento digital, com benefícios inequívocos para o bem-estar da humanidade e ainda na preservação da natureza.
Em “Abundance Bold”, Diamandis se mostra otimista com a sinergia trazida pelas tecnologias em rede. O “abundância” do título (podem gritar, luditas) segue a percepção de que as novas invenções irão otimizar os recursos, com planejamento de oferta e demanda mais eficaz (não irá se produzir mais do que se consome). Portanto, zero desperdício.
Estaria em processo o mais radical e profundo momento de transformação já experimentado pela humanidade. Enquanto alguns pensadores de cepa marxista encaram as etapas da história por meio de revoluções sociais, outra linha de pensamento enxerga os saltos da humanidade à luz do advento das tecnologias. A descoberta da agricultura... do fogo… da luz elétrica…da mala com rodinha etc.
Quase todas as invenções tiveram ecos no reordenamento social, além de impactos econômicos e mesmo na fisiologia do homem. Com o fogo, os alimentos passaram a ser cozidos. A digestão passou a ser feita em menor tempo, o corpo gastou menos energia, o intestino humano diminuiu de tamanho e tal economia energética levou ao aumento de nosso cérebro (calma aí, bozoditas).
Nossa era, vista como a Quarta Revolução Industrial, cada vez mais enfrentará o que J. Schumpeter chamava de “destruição criativa”. Diamandis, em seu novo livro, “O futuro é mais rápido do que você pensa”, lembra como o surgimento do automóvel em escala industrial, embora tenha desempregado cavalos, fez surgir outras necessidades, geradoras de ocupações: sinais de trânsito, fábricas de pneus, até a indústria da multa!
Schwab, no entanto, lembra que a robotização tirará vagas de operários em plataformas industriais antiquadas. Empregos que antes estavam na China já voltaram aos Estados Unidos. Agora ocupados por robôs.
*Miguel de Almeida é editor e diretor de cinema
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