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Mostre o vídeo, Celso de Mello
Há muito mais a ser provado pelo vídeo da reunião ministerial de 22 de abril último do que somente a denúncia feita pelo ex-ministro da Justiça Sérgio Moro de que o presidente Jair Bolsonaro ameaçou demiti-lo se não trocasse o superintendente da Polícia Federal no Rio.
Bolsonaro queria também a troca do superintendente da Polícia Federal em Pernambuco, sabe-se lá por quê. Mas foi por meio de mensagem remetida a Moro em grupo de WhatsApp que ele tratou do assunto. Quanto a troca no Rio, ela favoreceria sua família em apuros com a Justiça.
É verdade, por exemplo, que o Ernesto Araújo, o sagaz ministro das Relações Exteriores, disse na reunião que o Covid-19 fora criado em laboratório para que a China pudesse depois dominar o mundo? E que batizou-o de “comunavírus”, provocando uma gargalhada de Bolsonaro?
A China, mas não somente ela, tem interesse em conferir se isso de fato aconteceu. Maior parceiro comercial do Brasil, a China anda agastada com o governo Bolsonaro desde que o deputado Eduardo, um diplomata nato e às vezes incompreendido, acusou-a de ter fabricado o vírus.
Pobre Eduardo, apelidado de Bananinha pelo general Hamilton Mourão, o vice-presidente da República. Eduardo limitou-se a propagar o que afirma o presidente dos Estados Unidos Donald Trump, a figura mais admirada pelo deputado e por seu pai, ambos encantados com a cultura americana.
Outras coisas carecem de ser provadas ou não pelo vídeo que, amanhã, por ordem do ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal, será exibido em sessão única, em Brasília, a Moro e seus advogados, procuradores da República e agentes da Polícia Federal que investigam o episódio.
Mello, em seguida, pedirá a opinião de Moro e dos procuradores sobre a suspensão do sigilo em torno do vídeo. A tendência de Mello é divulgar a íntegra do vídeo. A Advocacia Geral da União pediu que o vídeo só fosse divulgado com cortes para preservar temas “potencialmente sensíveis”.
Um desses temas, revelaram participantes da reunião, foi outra queixa endereçada a Moro por Bolsonaro. Será mesmo verdade que o presidente não gostou nem um pouco da nota de pesar da Polícia Regional Federal sobre a morte de um dos seus funcionários, mais uma vítima do Covid-19?
Será verdade que Bolsonaro chegou ao ponto de dizer que a corporação deveria ter atribuído a morte a outras causas do tipo obesidade, pressão alta ou diabetes? Porque a ser verdade, o presidente é dado a mentir e a estimular fraudes, o que custa a crer. Sem duvida, pegaria mal para ele.
Pegará igualmente muito mal se o vídeo tiver registrado a opinião do ministro da Educação, o culto e sempre sensato Abraham Weintraub, sobre os ministros do Supremo. Alastrou-se a suspeita de que ele afirmou que os 11 ministros da Corte são mesmo uns “grandes filhos da puta”.
A uma ofensa de tal gravidade, Bolsonaro não teria reagido indignado? Pelo menos não teria cobrado bons modos ao ministro que não perde a oportunidade de elogiar? No limite, não o ameaçou de demissão como fez com Moro, segundo o ex-ministro da Justiça?
Se os tais temas “sensíveis” forem esses, não se justifica manter o vídeo em segredo. A China não romperá relações comerciais com o Brasil porque Bolsonaro teria gargalhado de um comentário de Araújo. Nem as togas pegarão fogo porque Weintraub foi outra vez mal educado.
Mostre o vídeo, ministro Celso de Mello. Afinal, o distinto público tem o direito de conhecer melhor seus governantes.
O desespero dos generais com o indisciplinado capitão
Sem conseguir controlá-lo
Generais que cercam de perto o presidente Jair Bolsonaro admitem o fracasso em tentar limitar seus passos, segundo a edição desta semana do TAG REPORT, relatório das jornalistas Helena Chagas e Lydia Medeiros. Bolsonaro é incontrolável. Já era assim nos tempos de soldado e cabo. Ao seu afastado do Exército por conduta antiética, ganhou a patente de capitão.
Queixam-se de conversar com ele, aconselhá-lo a se expor menos, analisarem os riscos do seu comportamento, quase sempre no fim Bonsonaro concorda com o que ouve. Para de repente, sem avisá-los, aprontar mais uma. Muitas vezes só ficam sabendo na última hora que ele sairá para mais um passeio, ou para participar de mais uma manifestação.
Andam preocupados também com a entrega de cargos do governo para o Centrão, o grupo de partidos políticos mais fisiológicos. Já advogaram junto a Bolsonaro que é preciso designar militares para tomarem conta de cada nome nomeado pelo Centrão. Mas Bolsonaro é contra. Alega que se é para obter apoio político, o Centrão deve sentir-se à vontade.
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