Na política, nada se
cria, tudo se copia. O mensalão mineiro do PSDB se transformou no mensalão
nacional do PT, que gerou o petrolão. Lula juntou os programas sociais que
existiam no governo Fernando Henrique e criou o Bolsa-Família, um instrumento
social poderoso que se transformou em alavanca eleitoral que aparou sua queda
entre a classe média quando os escândalos de corrupção o obrigaram a trocar os
eleitores do sul e sudeste pelos do nordeste, que virou um nicho petista por
muitos anos.
Agora, Bolsonaro anda atrás de dinheiro para criar o Renda Brasil, um
Bolsa-Família alargado, em valor e pessoas. Com o auxílio emergencial de R$
600,00 durante os primeiros meses de pandemia, Bolsonaro viu sua popularidade
crescer, e sentiu o efeito que esse tipo de programa social produz numa massa
de eleitores que não votou nele em 2018.
Com o bico calado, mas agindo nos bastidores, Bolsonaro consegue se equilibrar
entre seus apoiadores mais radicais, aumentando o poder de investigação da Abin
para ter instrumentos de pressão sobre os adversários, e vai entrando no
nordeste. O ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, está mais
sintonizado nesse momento com os objetivos do presidente do que seu mentor, o
ministro da Economia, Paulo Guedes.
Originalmente assessor de Guedes na reforma da Previdência, com papel de
destaque, Marinho ganhou como prêmio um ministério, e logo se desgarrou de
Guedes, juntando a fome com a vontade de comer. Localizou na ânsia do
presidente por popularidade no nordeste, e na dos militares por obras de
infra-estrutura, um caminho para ganhar poder. Seu comentário na entrevista ao
Globo de que nenhuma região é propriedade de um partido tem direção certa.
O equilíbrio fiscal que Paulo Guedes defende a ferro e fogo está claramente
ameaçado pela vontade do grupo majoritário no governo que quer que ele arrume
“um dinheirinho” - como definiu Flávio Bolsonaro - para obras e ações sociais.
Todos bem intencionados, mas é aí que mora o perigo, especialmente quando se
antecipou tanto a corrida presidencial de 2022.
O perigo de uma pedalada fiscal foi colocado pelo ministro Bruno Dantas, do
Tribunal de Contas da União (TCU), em recente palestra: “Pedalada fiscal foi a
alcunha que se criou para a contabilidade criativa do PT. Ainda estamos por
nomear a criatividade a ser usada por este governo para não romper o teto de
gastos”.
Ele se referia à pressão do Centrão e dos militares por mais gastos,
aproveitando a pandemia e o estado de calamidade para burlar o limite do teto
de gastos. O que pode prejudicar a caminhada de Bolsonaro à reeleição são os 21
cheques de Fabrício Queiroz para a primeira-dama Michelle Bolsonaro entre 2011
e 2018, que totalizaram R$ 72 mil.
Além dos problemas do filho Flavio, que não consegue explicar a dança de
dinheiro vivo entre suas contas e as de Queiroz, agora a revista digital Crusoé
revelou que as investigações do Ministério Público mostram que o montante de
dinheiro repassado por Queiroz à primeira-dama vai muito além dos R$ 40 mil que
Bolsonaro havia dito que emprestara a seu amigo.
Assim como Flavio Bolsonaro alega que pediu para um amigo PM pagar uma
prestação de R$ 16,5 mil de um apartamento porque não queria ir ao banco,
também Bolsonaro diz que sua mulher recebia o dinheiro porque ele não tinha
tempo para essas coisas.
O presidente não pode ser julgado por um suposto crime que aconteceu
anteriormente à sua chegada à presidência da República. Mas pode ser
investigado, o que lhe tirará força política e reforçará o poder de barganha do
Centrão. Lula usou todos os seus recursos para eleger Dilma em 2010, o país
cresceu 7,5% naquele ano, e a economia começou a declinar. Já vimos esse filme
antes, e ele não acaba bem.
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