Por Cristian Klein | Valor Econômico
RIO - Diante da possibilidade de maior engajamento do grupo político do presidente Jair Bolsonaro na campanha à reeleição de Marcelo Crivella (Republicanos), o ex-prefeito do Rio Eduardo Paes (DEM) aposta numa estratégia com dois pilares: evitar a nacionalização da corrida municipal e vincular seu sucessor no cargo ao governador Wilson Witzel (PSC), alvo de um impeachment e de um inquérito que investiga megaescândalo de corrupção na área da saúde.
“O Crivella é a versão 2020 do Wilson Witzel. Totalmente ‘fake’. O eleitor do Bolsonaro não cai mais na conversa de melhor amigo dele, que o Witzel conseguiu vender em 2018”, afirma Paes, que perdeu a eleição a governador há dois anos para o então desconhecido ex-juiz.
Paes tem sido visto pelo Palácio do Planalto como uma ameaça aos planos de reeleição do próprio presidente, em 2022. O receio de Bolsonaro é que o ex-prefeito, caso retome o posto, dê palanque no Rio ao governador de São Paulo João Doria (PSDB). Ex-tucano, Paes pertence ao DEM, aliado histórico do partido comandado por Doria e cujo maior expoente é o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, defensor de projeto alternativo a Bolsonaro.
Ao Valor, o ex-prefeito nega que sua candidatura esteja vinculada a Doria e afirma que não tratará da eleição de 2022 “em hipótese nenhuma”. “Não estou atrás de apoio de presidenciável nenhum e nem trocar isso por qualquer acordo para 22”, diz. Na estratégia de desnacionalizar a eleição, porém, toma o cuidado de não entrar em colisão com o bolsonarismo, cujo eleitorado pode lhe render votos.
“Eleito prefeito estabelecerei com o presidente Bolsonaro e com o governador, se ele ainda estiver lá, a melhor relação possível. Meu interesse é recuperar minha cidade. Para o Brasil já tem muita gente se preocupando”, afirma. “A eleição vai estar cheia de representantes de projetos nacionais. Vai ter representante do Ciro, do Doria, da Marina, do Bolsonaro, do Lula E do Rio só vai ter um: Eduardo Paes”, diz.
Bolsonaro já afirmou que não se envolverá na campanha como cabo eleitoral, mas os últimos movimentos apontam que o presidente pretende fortalecer as hostes de Crivella no Rio. Bolsonaro tem se reaproximado do PSL, legenda da qual se desfiliou após conflito com a ala liderada pelo presidente do partido, Luciano Bivar. A maioria de seus apoiadores, porém, continua na sigla, e a deputada federal Major Fabiana passou a ser cotada como vice de Crivella.
A aliança entre um PSL reconciliado com Bolsonaro e o Republicanos de Crivella dificultaria a vida de Paes. Caso se concretize a coligação, o prefeito buscaria a reeleição turbinado com o tempo de propaganda em rádio e TV e os recursos do fundo eleitoral do PSL, que estão entre os dois maiores, rivalizando com os do PT.
A equação, porém, não é fácil. Na capital, a legenda já tem um pré-candidato, o deputado estadual Rodrigo Amorim, que teria que ser escanteado.
Questionado pelo Valor, o presidente estadual do PSL, deputado federal Sargento Gurgel, confirma a aproximação nacional com Bolsonaro, “que será vista com todo carinho”, mas ressalta que ela se dará com “a análise de todo o cenário” e que o nome de Amorim está de pé. “Imagino que será lenta, por etapas, em alguns locais, com o pé no chão, com os deputados que não agrediram o partido”, afirma. Gurgel diz que um retorno de Bolsonaro não teria o condão de levar o PSL para a chapa de Crivella: “A capital é uma decisão político-partidária, acredito que não tenha muito a ver com a volta do presidente, não”.
Seja como for, Paes afirma que “essa relação dele [Crivella] com o Bolsonaro não convence a ninguém”, embora, “do lado do Bolsonaro”, seja “até compreensível: ganhar a Igreja Universal, o Republicanos e a TV Record”.
Em nota, Crivella disse que “está dedicado à gestão, principalmente nesse momento de pandemia da covid-19 - vide a queda acentuada na taxa de contaminação e no número de óbitos no município”. “Na condição de gestor, o prefeito cumpre o papel de alinhar com o presidente da República, Jair Bolsonaro, os interesses da população do Rio. Sobre campanha eleitoral, o prefeito se manifestará no momento oportuno”, afirmou.
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