É urgente elevar a qualidade da educação em todos os níveis, sem a qual a produtividade seguirá decadente
O Brasil perde há um bom tempo a corrida pela competitividade global. A América Latina, em cujo desempenho tem um peso determinante, tem hoje a mesma proporção entre seu PIB per capita e o dos Estados Unidos que tinha em 1990 - 25%. Outros países convergiram mais rapidamente para o nível americano, não só os países do Sudeste Asiático como os ex-países comunistas do Leste e do centro da Europa, constata estudo de técnicos do FMI. Eles se debruçaram sobre a questão de porque os ex-comunistas, mesmo tendo taxas menores de investimento que alguns países latino-americanos, como o México, os ultrapassaram. A resposta, segundo o estudo, tem menos a ver com a taxa de investimentos e mais com a produtividade total dos fatores, medida geral que envolve quanto cresce a produção da riqueza nacional com a mesma quantidade de insumos, a saber, capital e trabalho, em determinado período de tempo.
“A América Latina é mais pobre não por causa do investimento, mas pelo baixo nível de capital humano e produtividade”, conclui o estudo. E, em uma lição que serve perfeitamente para o Brasil, que não é mencionado no estudo, mas nas tabelas, os técnicos do FMI dizem que “governos que focam apenas em investimentos deveriam olhar a questão de outra perspectiva”.
Ao avaliar o que eleva a produtividade geral da economia, os fatores determinantes foram, além da qualidade do capital humano, do seu nível de governança e do ambiente de negócios, medidos por indicadores que há tempos são muito ruins no Brasil. O indicador de capital humano brasileiro só é mais alto que o do Paraguai entre 8 países latinos e 14 países do Leste europeu analisados. Esta é a base da construção do atraso, por motivos conhecidos: mão de obra bem formada facilita a adoção de novas tecnologias, de processos de produção e auxilia na acumulação de conhecimento.
Governança e clima de negócios são vitais para elevar a produtividade total. O Brasil segue nos últimos lugares em ambos. Com dados do Banco Mundial, os números apontam que no primeiro quesito, o Brasil supera apenas México, Paraguai, Rússia e Ucrânia na amostra escolhida. A importância da governança no crescimento do país e na produtividade também é conhecida. “Melhores instituições aumentam os incentivos para acumulação e inovação”, aponta.
A soma desses fatores indica, entre outras coisas, o quão competitivo um país é. O Brasil continua mal. Na amostra, o índice de competitividade do Brasil, com base nos dados do Forum Econômico Mundial, fica à frente apenas do da Argentina e Paraguai, e da Ucrânia e Moldávia entre ex-comunistas.
Os fatores de progresso da produtividade e do crescimento em geral são conhecidos, mas os técnicos do FMI inverteram a causalidade entre investimentos e níveis de renda per capita examinando outras questões. América Latina não ficou para trás por causa de sua volatilidade econômica, que é menor que a dos países do leste e centro europeus. Suas relações de troca foram melhores que a deles ao longo do período de 1996 e 2018, e a taxa de investimento desde o ponto de partida foram maiores, embora baixa (20% do PIB). A melhor formação da mão de obra dos países que saíram do comunismo fez uma brutal diferença.
A conclusão dos técnicos do FMI não são triviais: “O baixo investimento na América Latina não é a causa, mas o resultado do baixo crescimento”. As diferenças nos níveis de renda, para eles, são em grande medida diferenças na produtividade total, e não do nível das taxas de investimentos, embora essas contem muito, mas menos diante de mão de obra pouco qualificada. O baixo investimento seria o resultado da baixa produtividade total que, ela sim, torna o investimento menos lucrativo.
Tabelas comparativas entre os países mostram que a posição do Brasil é desoladora. Na decomposição dos fatores que induziram ao crescimento do PIB per capita, no período entre 1995 e 2018, a produtividade total anual do Brasil é negativa em quase 2%, situação apenas comparável à do Chile e, depois, México e Itália. Não é surpreendente: o Brasil tem baixo investimento, mão de obra pouco qualificada, índices ruins de governança e ambiente de negócios, e cresce pouco. É importante melhorar tudo, mas é crucial e urgente elevar a qualidade da educação em todos os níveis, sem a qual a produtividade seguirá decadente, como nos últimos anos.
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