Reabertura requer plano estratégico para mitigar impacto da epidemia no emprego
Com a reabertura progressiva da economia, surgem dados que mostram uma significativa diminuição do número de trabalhadores que ficaram afastados do mercado pela pandemia. Na terceira semana de agosto eram 4 milhões, ante quase 20 milhões no início de maio.
A volta à atividade é boa notícia, mas não um indicativo de normalização do mercado de trabalho, que terá sequelas mais duradouras.
A crise radicalizou as diferenças em várias dimensões. Muitos setores permeáveis à tecnologia foram vitoriosos, com a aceleração da digitalização, enquanto serviços mais cotidianos ainda amargam ocupação inferior a 50% da capacidade.
Da mesma forma, trabalhadores de alta qualificação puderam, em maior proporção, trabalhar de casa, diferente de outros com menor escolaridade e de ocupações informais, que precisaram contar mais com o auxílio emergencial.
O corte de R$ 600 para R$ 300 no suporte governamental, a partir de outubro, é a preparação para sua extinção no final do ano, como reafirmou o presidente Jair Bolsonaro nesta semana.
Sem o auxílio e com menor restrição à movimentação, é provável que volte a crescer a busca por trabalho. Na pandemia, foram fechados 10,4 milhões de empregos. Nos cálculos do IBGE, no entanto, entre fevereiro e junho a taxa de desemprego subiu de 11,4% para 13,2%, o que parece pouco.
A razão é que 9,9 milhões de pessoas (9,3% da população ativa) deixaram de procurar vagas e, portanto, de integrar o rol de desempregados captados pela pesquisa.
A população economicamente ativa, aquela empregada ou em busca de trabalho, deve aumentar o desemprego caso não consiga uma ocupação. É provável que isso ocorra, pois serviços fortemente empregadores, como entretenimento, turismo, alimentação fora do domicílio, entre outros, não devem voltar à normalidade até meados do ano que vem.
O quadro fica mais dramático se forem considerados os desalentados, que abarcam principalmente jovens, mulheres e pessoas de baixa escolaridade. Hoje, são 24 milhões de pessoas desempregadas, que trabalham menos do que gostariam ou que estão em desalento.
É verdade que os indicadores recentes sugerem uma forte recuperação na segunda metade do ano. A retração do PIB em 2020 pode ficar em torno de 5%, bem melhor que o projetado há algumas semanas.
Mas o desafio maior está mais adiante. Mesmo se a volta do crescimento surpreender, é plausível que isso ocorra com menos empregos. Não será fácil evitar que a desigualdade seja ainda mais radicalizada no pós pandemia, ainda mais com um governo sem diagnóstico ou planos de envergadura.
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