Pós-verdade
foi a palavra do ano de 2016. Como manda a tradição, o dicionário “Oxford”
anunciou a escolha em dezembro. Um mês antes, Donald Trump havia sido eleito o
45º presidente dos Estados Unidos.
Na
era da pós-verdade, os fatos importam pouco. O que conta são as versões, que
podem ser fabricadas para confirmar crenças, preconceitos ou visões de mundo.
Trump
usou uma mentira deslavada para se lançar na política. Ele ajudou a propagar a
falsa tese de que Barack Obama teria nascido no Quênia. Isso o tornou popular
entre os radicais do Partido Republicano, que não se conformavam com a presença
de um negro na Casa Branca.
Na
campanha, o magnata continuou a espalhar lorotas. Ele inventou que o crime não
parava de crescer (as estatísticas mostravam o contrário), que os mexicanos
estavam invadindo os EUA (havia mais gente saindo que entrando no país) e que
Obama teria fundado o Estado Islâmico (essa dispensa comentários).
Ao
assumir o poder, Trump transformou o embuste em arma cotidiana. Em julho, o
jornal “The Washington Post” informou que ele já havia divulgado 20 mil
informações falsas ou distorcidas.
Como
todo mitômano, o republicano se apresenta como portador da verdade. Quem ousa
contestá-lo é acusado de produzir fake
news. Assim ele mina a confiança na ciência, na imprensa e nas
universidades.
A
pandemia ensinou que a indústria da pós-verdade, alimentada por populistas como
Trump, pode provocar danos ainda maiores que a corrosão da democracia.
“Mentiras e desinformação, conspiração e ódio não prejudicam apenas o debate
democrático, mas também a luta contra o coronavírus”, afirmou na semana passada
a chanceler alemã Angela Merkel.
A
conservadora fez o alerta após ser vaiada por deputados do partido de extrema
direita AfD, que se opõe às medidas de combate à Covid. “Não é apenas o debate
democrático que depende do nosso compromisso com os fatos e a informação. As
vidas humanas dependem disso também”, prosseguiu Merkel.
A frase ajuda a explicar o que está em jogo na eleição americana de 2020.
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