Possível
vitória de nomes de centro em São Paulo e no Rio é vista como ensaio para 2022
Há
muitos pontos de contato nas corridas eleitorais em São Paulo e no Rio de Janeiro. E
eles são importantes variáveis para a montagem das estratégias políticas para
2022. Sim, eu concordo com os cientistas políticos, historiadores e analistas
de dados que alertam que as eleições municipais seguem dinâmicas e pautas
locais, e não são necessariamente reflexo das eleições nacionais anteriores nem
laboratórios para as seguintes.
Mas
é impossível analisar alianças e dinâmicas de eleitorado neste ano sem ter como
bagagem 2016 e 2018, por diferentes razões. E sim, algumas das decisões de
agora terão reflexos para os próximos dois anos.
Hoje, São Paulo e Rio têm rigorosamente a mesma configuração nas pesquisas: candidatos de centro relativamente isolados na liderança (Bruno Covas na capital paulista e Eduardo Paes na fluminense); um candidato do bolsonarismo tentando se credenciar para o segundo turno, mas enfrentando dificuldades, e nomes da esquerda pulverizada disputando entre si e podendo ficar fora da disputa final justamente por essa “canibalização”.
Covas
é tucano desde sempre. Vem de uma família política e adotou um discurso de
centro e de defesa da política depois da debacle da mesma em 2018. Paes já
percorreu todo o abecedário político e é um dos políticos mais pragmáticos de
sua geração. Tem usado a derrota surpreendente que enfrentou em 2018 para jogar
um “eu te disse” na cara do eleitor arrependido.
Os
dois se prepararam para enfrentar expoentes da direita no segundo turno. Nas
duas cidades, a possível vitória de nomes de um centro reabilitado contra a
direita é vista como um laboratório importante para uma frente mais ampla em
2022, inclusive como ensaio de aproximação com siglas de centro-esquerda e de
esquerda.
A
dificuldade de os bolsonaristas Celso
Russomanno e Marcelo
Crivella irem ao segundo turno é de certo modo surpreendente, e
pode fazer os líderes nas pesquisas terem de redirecionar o discurso no segundo
turno, para atrair o eleitorado de direita caso eles sucumbam. E isso adiaria
as conversas para a tal frente ampla.
As
agruras de Russomanno e Crivella evidenciam: 1) o caráter frágil da tal
recuperação da popularidade do presidente, 2) o risco do discurso e da conduta
negacionistas em plena pandemia fora das redes sociais, e 3) o refluxo da onda
de se eleger completos outsiders para funções administrativas importantes. Por
fim, paulistanos e cariocas assistem à mesma diáspora de candidaturas de
esquerda, num sinal de que também nesse campo não será simples a união de
esforços contra Bolsonaro em 2022.
São
pelo menos dois os candidatos ditos progressistas que avançam em São
Paulo: Guilherme Boulos, do PSOL, e Márcio França, do PSB, que parece ter acertado a previsão de que repetiria o
sprint final de 2018, na disputa ao governo do Estado. O problema é que o
crescimento simultâneo deles pode ajudar Russomanno a prevalecer por pouco. A
disputa tende a ficar embolada até o final. No Rio, os votos de Benedita da
Silva (PT) podem ser os que faltarão para Marta Rocha (PDT) se habilitar a tirar a vaga do prefeito na final. O uso
sem moderação das máquinas da prefeitura e da igreja pode levar um Crivella
mesmo alquebrado ao segundo turno.
Esses todos são fenômenos que transcendem a pauta e a dinâmica municipais, ainda que a decisão de voto os leve em conta. Os aprendizados que caciques e partidos tirarão dos resultados não só nessas, mas em várias capitais emblemáticas (Fortaleza é um case nacional, também) indicará se o Brasil de fato começou a sair do transe lavajatista e revanchista com que foi às urnas em 2018 para caminhar para algo mais racional de agora em diante.
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