Eleição
aberta
Nunca antes na história dos Estados Unidos um presidente da República falou em fraude em meio a apuração de votos. Mas Donald Trump não seria o que é se não fosse o primeiro a falar, mesmo quando sua eventual vitória poderá ser confirmada a qualquer momento.
Por
que o fez? Sabe-se lá. Talvez por receio de que os votos que ainda faltam ser
apurados em Estados importantes possam favorecer o Democrata Joe Biden. Ou
talvez para ser coerente com o discurso que mais repetiu durante a campanha, o
de que poderia ser vítima de uma fraude.
Biden
amanheceu nesta quarta-feira com 238 votos no Colégio Eleitoral dos 270
necessários para que se eleja, contra 213 de Trump. Esse placar é das 6h30m. E
com algo como dois milhões de votos populares a mais do que Trump. Sua sorte
depende dos resultados da apuração em Nevada, Geórgia e Pensilvânia.
Caminha
para vencer em Nevada. Na Geórgia, os votos que restam ser apurados são dos
condados de Fulton e DeKalb. Ficam em Atlanta. DeKalb já apurou 98% dos votos,
e ali Biden tem 83%. Fulton falta contar todos os seus 440 mil votos. Espera-se
mais de 70% para Biden. Ou seja: ele tem chances de vencer na Geórgia.
A
apuração na Pensilvânia será retomada às 11h. Trump, ali, está na frente. Dos 2
milhões e meio de votos enviados pelo Correio, só 39% foram apurados.
Filadélfia, capital da Pensilvânia, costuma votar em democratas. Há poucos
instantes, Biden emparelhou com Trump no Estado do Wisconsin.
A
eleição ainda está aberta.
Bolsonaro
inventa vacina para se imunizar contra derrotas
Se
não se reeleger em 2022, seu discurso da derrota já está pronto
Em
2016, a vitória de Donald Trump sobre Hillary Clinton surpreendeu o mundo,
inclusive o próprio Trump que até o último minuto da apuração não acreditava
que venceria. Já fazia planos para retornar aos seus milionários negócios
imobiliários.
À
época, portanto, não passava pela cabeça de Trump bater às portas da Suprema
Corte para contestar sua eventual derrota. Não falava disso. Passou a falar
agora quando se viu desafiado por Joe Biden. “Perder logo para esse cara?” –
comentou com um amigo.
Pelo
menos nisso, Jair Bolsonaro largou à frente de Trump. Em 2018, ao
lançar-se candidato a presidente, começou a desqualificar o processo eleitoral
caso não vencesse. Disse que jamais reconheceria os resultados se não fosse
eleito.
Para
espanto dele mesmo, elegeu-se. Na verdade, o que ele pretendia com sua
candidatura era ajudar a carreira política dos seus três filhos mais velhos –
Flávio aspirante a senador, Eduardo a deputado federal e Carlos à reeleição
como vereador.
Este
ano, em março, ao visitar os Estados Unidos de onde voltou com a ideia de que o
coronavírus não passaria de uma gripezinha, Bolsonaro afirmou que a eleição
presidencial brasileira de 2018 fora fraudada para impedir que ele ganhasse no
primeiro turno.
Sim,
ele garantiu que tinha provas disso e que as apresentaria em breve. Como
sempre, mentiu e por conveniência esqueceu o assunto. Ontem, temendo uma
derrota de Trump de quem se diz amigo, idiomas à parte já que um não fala a
língua do outro…
Bolsonaro,
que despreza a utilidade de vacinas contra o coronavírus, inventou uma para se
imunizar contra possíveis derrotas nas urnas – hoje ou no futuro. Hoje, a
julgar pelo que se desenha nos Estados onde ele apoia candidatos a prefeito.
Não
há um só candidato bolsonarista a prefeito em cidades importantes que lidere as
pesquisas de intenção de voto. Havia um até ontem: o Capitão Wagner (PROS), em
Fortaleza, que evita falar o nome de Bolsonaro ou defender o seu governo. Não
há mais.
Wagner
deve sua posição nas pesquisas ao desempenho como deputado estadual e ao fato
de que liderou uma greve ilegal de policiais militares. Se for para o segundo
turno, enfrentará uma parada dura contra um candidato apoiado pelo PT e PDT.
Foi
de olho nestas e nas eleições de 2022 que Bolsonaro, ante a ameaça de ver Trump
na lona, criticou a “ingerência de outras potências” nas eleições americanas, e
advertiu que isso poderá repetir-se também por aqui. Bolsonaro com a palavra:
–
No Brasil, poderemos sofrer uma decisiva interferência externa, na busca, desde
já, de uma política interna simpática a essas potências, visando às eleições de
2022.
Se
ele não se reeleger como pretende, seu discurso da derrota já está pronto. Com
a diferença de que não adiantará apelar para o Supremo Tribunal Federal porque,
ali, não contará com a maioria folgada de votos que Trump detém na Suprema
Corte.
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