quarta-feira, 4 de novembro de 2020

Ricardo Noblat - Biden perde o favoritismo, vira azarão, mas pode surpreender

- Blog do Noblat | Veja

Eleição aberta

 Nunca antes na história dos Estados Unidos um presidente da República falou em fraude em meio a apuração de votos. Mas Donald Trump não seria o que é se não fosse o primeiro a falar, mesmo quando sua eventual vitória poderá ser confirmada a qualquer momento.

Por que o fez? Sabe-se lá. Talvez por receio de que os votos que ainda faltam ser apurados em Estados importantes possam favorecer o Democrata Joe Biden. Ou talvez para ser coerente com o discurso que mais repetiu durante a campanha, o de que poderia ser vítima de uma fraude.

Biden amanheceu nesta quarta-feira com 238 votos no Colégio Eleitoral dos 270 necessários para que se eleja, contra 213 de Trump. Esse placar é das 6h30m. E com algo como dois milhões de votos populares a mais do que Trump. Sua sorte depende dos resultados da apuração em Nevada, Geórgia e Pensilvânia.

Caminha para vencer em Nevada. Na Geórgia, os votos que restam ser apurados são dos condados de Fulton e DeKalb. Ficam em Atlanta. DeKalb já apurou 98% dos votos, e ali Biden tem 83%. Fulton falta contar todos os seus 440 mil votos. Espera-se mais de 70% para Biden. Ou seja: ele tem chances de vencer na Geórgia.

A apuração na Pensilvânia será retomada às 11h. Trump, ali, está na frente. Dos 2 milhões e meio de votos enviados pelo Correio, só 39% foram apurados. Filadélfia, capital da Pensilvânia, costuma votar em democratas. Há poucos instantes, Biden emparelhou com Trump no Estado do Wisconsin.

A eleição ainda está aberta.

Bolsonaro inventa vacina para se imunizar contra derrotas

Se não se reeleger em 2022, seu discurso da derrota já está pronto

Em 2016, a vitória de Donald Trump sobre Hillary Clinton surpreendeu o mundo, inclusive o próprio Trump que até o último minuto da apuração não acreditava que venceria. Já fazia planos para retornar aos seus milionários negócios imobiliários.

À época, portanto, não passava pela cabeça de Trump bater às portas da Suprema Corte para contestar sua eventual derrota. Não falava disso. Passou a falar agora quando se viu desafiado por Joe Biden. “Perder logo para esse cara?” – comentou com um amigo.

Pelo menos nisso, Jair Bolsonaro largou à frente de Trump. Em  2018, ao lançar-se candidato a presidente, começou a desqualificar o processo eleitoral caso não vencesse. Disse que jamais reconheceria os resultados se não fosse eleito.

Para espanto dele mesmo, elegeu-se. Na verdade, o que ele pretendia com sua candidatura era ajudar a carreira política dos seus três filhos mais velhos – Flávio aspirante a senador, Eduardo a deputado federal e Carlos à reeleição como vereador.

Este ano, em março, ao visitar os Estados Unidos de onde voltou com a ideia de que o coronavírus não passaria de uma gripezinha, Bolsonaro afirmou que a eleição presidencial brasileira de 2018 fora fraudada para impedir que ele ganhasse no primeiro turno.

Sim, ele garantiu que tinha provas disso e que as apresentaria em breve. Como sempre, mentiu e por conveniência esqueceu o assunto. Ontem, temendo uma derrota de Trump de quem se diz amigo, idiomas à parte já que um não fala a língua do outro…

Bolsonaro, que despreza a utilidade de vacinas contra o coronavírus, inventou uma para se imunizar contra possíveis derrotas nas urnas – hoje ou no futuro. Hoje, a julgar pelo que se desenha nos Estados onde ele apoia candidatos a prefeito.

Não há um só candidato bolsonarista a prefeito em cidades importantes que lidere as pesquisas de intenção de voto. Havia um até ontem: o Capitão Wagner (PROS), em Fortaleza, que evita falar o nome de Bolsonaro ou defender o seu governo. Não há mais.

Wagner deve sua posição nas pesquisas ao desempenho como deputado estadual e ao fato de que liderou uma greve ilegal de policiais militares. Se for para o segundo turno, enfrentará uma parada dura contra um candidato apoiado pelo PT e PDT.

Foi de olho nestas e nas eleições de 2022 que Bolsonaro, ante a ameaça de ver Trump na lona, criticou a “ingerência de outras potências” nas eleições americanas, e advertiu que isso poderá repetir-se também por aqui. Bolsonaro com a palavra:

– No Brasil, poderemos sofrer uma decisiva interferência externa, na busca, desde já, de uma política interna simpática a essas potências, visando às eleições de 2022.

Se ele não se reeleger como pretende, seu discurso da derrota já está pronto. Com a diferença de que não adiantará apelar para o Supremo Tribunal Federal porque, ali, não contará com a maioria folgada de votos que Trump detém na Suprema Corte.

 

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