Trump
insistiu nas declarações sobre a disposição de Biden para fechar a economia
seguindo a ciência
As
estratégias para enfrentar a Covid-19 ocuparam o centro das atenções nas
eleições nos EUA. O apreço ou desprezo pela ciência, a incapacidade para
coordenar o enfrentamento da pandemia ou a defesa da economia e os defeitos ou
qualidades atribuídos ao Obamacare orientaram a definição dos votos.
Joe
Biden declarou que apoiaria, em vez de difamar, pesquisadores e especialistas.
Disse ainda que incentivaria o uso de máscaras sempre, garantiria avanços para
a testagem por meio de investimentos em testes rápidos e se certificaria sobre
padrões nacionais seguros para a abertura de escolas e empresas.
Donald
Trump afirmou que considera ter nota A+ no gerenciamento da pandemia e apenas
um D em divulgação, “porque são produzidas notícias falsas”. O atual presidente
insistiu nas declarações sobre a disposição do adversário para fechar a
economia seguindo recomendações científicas, disse que tinha testado positivo e
retomou a campanha por ter recebido tratamento com anticorpos e outros
medicamentos. Contudo o que está em jogo é mais do que a condução política
contra a pandemia. O resultado das eleições decide o destino da Lei de Cuidados
Acessíveis (ACA, na sigla em inglês) — o Obamacare —, aprovada em 2010 pelos
democratas e que, segundo Trump, é “muito cara e não funciona.”
O
sistema de saúde nos EUA, que se baseia em planos privados e programas
governamentais, vai descer do muro. O plano apresentado por Biden propõe a
expansão de coberturas por meio da organização de um seguro público e da
redução na idade (de 65 para 60 anos) para ingresso. Enquanto o atual governo
atua junto à Suprema Corte defendendo a inconstitucionalidade do Obamacare.
Embora
uma decisão jurídica contrária ao aumento da proteção à saúde fosse improvável
(houve sentenças que acataram a legislação em 2012 e 2015), a morte da
progressista Ruth Bader Ginsburg e a indicação de Amy Coney Barrett, reforçando
uma maioria de juízes conservadores (6 a 3), aumentariam as chances de anular a
lei. Os republicanos apoiam e prometeram conservar garantias para pessoas com
doenças preexistentes, contidas na ACA, mas não apresentaram normas para
obrigar que as empresas vendam planos para quem tem mais probabilidade de
risco. Outros temas, como direitos reprodutivos e a atenção à saúde para
imigrantes, provocaram polêmicas laterais.
Trump
cortou recursos para clínicas de planejamento familiar que realizam ou oferecem
orientação sobre aborto, permitiu que as empresas empregadoras excluíssem o
acesso a anticoncepcionais e programas para pacientes LGBTQ e expandiu a
“Política da Cidade do México” (datada de 1984, gestão Reagan), que bloqueia
assistência internacional a organizações envolvidas com a interrupção segura da
gravidez.
O
republicano quer reverter a decisão da Suprema Corte de 1973 (Roe versus Wade)
sobre direito ao aborto. Biden tem posicionamentos opostos, prometeu reverter
políticas discriminatórias de gênero. Assim como propôs mudar as regras de
separação entre pais e filhos na fronteira e instituir um roteiro rumo à
cidadania para imigrantes ilegais, incluindo a permissão de adesão a planos
privados e a remoção do tempo de espera de cinco anos para o ingresso em
programas governamentais de saúde dos legalizados.
Oportunidades de expor programas para a saúde foram bem aproveitadas por Biden. Trump não é um candidato convencional, atacou constantemente a burocracia e recentemente os médicos, a quem acusou de receber dinheiro para registrar indevidamente mortes por Covid-19. Seu admirador no Brasil tenta com afinco parecer igual, mas não consegue. O governo federal organizou uma burocracia militar dispendiosa e ineficiente na saúde e cultiva uma base de médicos militantes. Para Biden, Trump não soube proteger a América. A frase teria que ser adaptada para fazer sentido entre nós, onde a pandemia também segue ceifando vidas. Ficaria assim: Bolsonaro não soube proteger o Brasil, mas conseguiu arrumar a vida de um monte de gente ao bagunçar a saúde pública.
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