Ciclo
deu ares de normalidade a atitudes anômalas; efeitos devem ser duradouros
Os
quatro anos desde a eleição de Donald Trump nos EUA consolidaram um método
marginal na política. O show comandado pelo magnata a partir de 2016 deu ares
de normalidade a recursos como a desinformação e o estímulo à violência. O
efeito negativo desse ciclo para a democracia deve ser duradouro.
O
americano abriu essa caixa de ferramentas para construir a imagem de um
político disposto a desmantelar o centro corrupto do poder. A mentira, o
discurso preconceituoso e a demonização de adversários eram marcas que pareciam
conferir autenticidade a um personagem que ignorava as regras do jogo.
Aqueles
que vestem esse figurino geralmente não têm vontade ou habilidade para
desmantelar coisa nenhuma. Eles reclamam e dizem que o sistema poderoso impediu
a missão. O único produto que são capazes de entregar é o retrocesso de
governos e do exercício da política.
Trump
e seus seguidores mundo afora levaram anomalias para o centro da arena pública.
O americano adotou uma postura aberta de incentivo à violência quando se
recusou a condenar grupos extremistas que atuam a seu favor. Ele explorou a
desinformação como um lance aceitável e recorreu à negação da ciência na
pandemia, sem se importar com seu impacto na saúde pública.
A
fabricação mais nociva é a tentativa corriqueira de apontar fraudes em larga
escala em eleições, sem apresentar provas. A artimanha passou a ser empregada
com naturalidade para enraivecer militantes e abrir caminho para contestações
que reduzem a crença no sistema político. Um presidente que usa essa carta só
para manter o poder ativa uma corrosão grave da democracia.
Quando o uso desses instrumentos se torna comum na arena política, eles também servem como um diversionismo eficaz. Se um político mente ou inventa uma conspiração qualquer, o foco do debate público muda. A distração pode ser suficiente para que ele não seja punido politicamente por seus fracassos ou sua crueldade como governante.
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