Há
novos riscos que ainda não estão nos cenários. Está havendo o agravamento da
pandemia, elevando a incerteza. O governo projeta crescimento de 3,2% do PIB no
ano que vem, mas o impacto desse novo momento não entrou ainda na conta nem do
governo, nem dos economistas. No Focus, subiu para 3,4%. Mesmo que se confirme
o cenário mais otimista, virá depois de uma queda de 4,5% este ano e não irá
recuperar toda a perda. Cada setor está voltando de um jeito, o agronegócio
continuou crescendo, a indústria se beneficiou do dólar alto, mas há muito
tempo está em crise, o setor de serviços é o que tem o desempenho mais
heterogêneo.
A economista Vilma Pinto, especialista em contas públicas e assessora econômica do governo do Paraná, diz que há uma discussão sobre que letra desenha melhor a realidade da recuperação, se é V ou W, mas ela acha que nos serviços o melhor é usar a letra K. Alguns segmentos do setor se recuperam. Outros ficam negativos. Esse setor é o mais importante para as cidades, que estão ainda no processo de escolha dos prefeitos. Os serviços estão ficando para trás, principalmente os voltados às famílias, como turismo, entretenimento e alimentação fora de casa. Isso aumentará as desigualdades no mercado de trabalho, com impacto maior sobre jovens, negros e menos escolarizados.
O
coronavírus tem sido especialista em corroer cenários e projeções, desde que se
espalhou pelo mundo. A economista Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do
FGV Ibre, teme que o aumento no número de casos da doença neste final de ano
faça a recuperação do quarto trimestre ser mais fraca do que o esperado, com
efeitos sobre o mercado de trabalho. Nessa época, são feitas muitas
contratações temporárias para o Natal, que depois acabam se tornando
permanentes no início do ano seguinte.
—
Essa incerteza de ter ou não uma segunda onda é muito preocupante. Como o
empresário vai contratar? Só segmentos que veem uma demanda mais segura e
garantida vão fazer isso. Limita demais o emprego formal — disse.
O
IBGE divulgará o PIB do terceiro trimestre no dia 3 de dezembro, e o Ibre
estima que o PIB tenha crescido 7,5%, em relação ao segundo, recuperando boa
parte da queda do primeiro semestre, que foi de recessão. Já na comparação com
o terceiro tri do ano passado, ainda haverá um tombo de 4,4%. Para este quarto
trimestre, já era esperada uma desaceleração na retomada. O auxílio emergencial
foi reduzido. Se novas medidas de isolamento social forem necessárias para
conter o vírus, haverá reversão de tendências na economia. Por mais que a bolsa
suba com a expectativa de uma vacina, levará meses para que a maior parte da
população esteja imunizada, e isso pode ser o suficiente para comprometer o
próximo semestre.
O
gasto público foi maior do que poderia ter sido se o governo tivesse adotado
outra estratégia no combate à pandemia. O mais barato era dar o exemplo, se
comunicar de forma eficiente e trabalhar em conjunto com governadores e
prefeitos. Na visão de Silvia Matos, não houve qualquer tipo de avaliação sobre
a qualidade dessa despesa. Agora, há pouco espaço fiscal para novas medidas de
socorro, sem a garantia de maior eficiência:
—
Fizemos política de transferência de renda, mas sem avaliar as pessoas que
receberam. No primeiro mês, tudo bem, no segundo, também, porque era
emergência. Mas depois tinha que ter focalizado. Houve muita fraude. O cobertor
é curto e o programa não foi revisto.
A
pesquisa de emprego Pnad Covid, feita toda semana pelo IBGE, mostra como a
crise tem afetado de forma desigual o mercado de trabalho. Enquanto a renda do
trabalhador formal está 10% menor do que no início da pandemia, a dos informais
está 20% abaixo. Trabalhadores mais qualificados, com mais de 15 anos de
estudo, praticamente não sentiram o desemprego. A desigualdade de raça e gênero
tem aumentado com as ofertas de vagas sendo mais escassas.
O
Brasil está com mais desequilíbrios econômicos na entrada desta segunda onda. A
inflação cresceu, a dívida subiu fortemente, o déficit se ampliou e o desemprego
está alto. Na semana que vem, passadas as eleições, é que ficará mais claro o
cenário de aprovação de medidas no Congresso. O ministro da Economia disse na
última quinta-feira que apresentará o projeto do novo imposto sobre transações
depois das eleições. Falando em inglês num evento do Bradesco, ele disse que
usará a plataforma do PIX para cobrar o novo imposto. Isso transformaria uma
inovação no sistema de pagamento em uma armadilha para os contribuintes.
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