Presidente
rende-se à vacina chinesa e à pressa do governador
Quando se vê em apuros depois de esticar a corda e ela dá sinais de que se romperá do seu lado, o presidente Jair Bolsonaro costuma recuar e falar manso. Foi o que fez mais uma vez – desta, no anúncio do que chamou de “plano de vacinação contra a Covid-19”, ao pregar “a união” para combater “algo que nos aflige há meses”.
O
“algo”, tratado por ele como “gripezinha” incapaz de matar 8 mil pessoas, matou
até ontem quase 184 mil e infectou mais de 7 milhões. A média móvel de casos
chegou a 44.654. O país não atingia esse nível de contaminação desde 4 de
agosto. Já a média móvel de mortes foi de 684, a maior desde 2 de outubro.
O recuo de Bolsonaro deve-se à iminente aprovação da vacina CoronaVac pela agência de vigilância sanitária da China, uma das quatro referências globais para a avaliação de novos medicamentos. Pela lei brasileira, tão logo isso aconteça, o uso da CoronaVac em território nacional torna-se imediatamente possível.
Daí
porque o Ministério da Saúde anunciou que a CoronaVac será uma das vacinas a
ser compradas, no caso ao Instituto Butantã, de São Paulo, encarregado de
produzi-la. Vitória do governador João Doria (PSDB) que saiu na frente. Doria
poderá se dar ao luxo de deixar por conta do ministério a aplicação da vacina.
Eduardo
Pazuello, doublé de general especialista em logística e ministro da Saúde,
disse não ver motivo para tanta “angústia” e “ansiedade”. Bolsonaro, que havia
falado que o Brasil vive “o finalzinho da pandemia”, completou que o país vive
agora uma “situação de quase normalidade”. Negacionismo na veia!
Não
haverá normalidade até que todos ou quase todos os brasileiros sejam vacinados.
Isso se dará só ali pelo final do próximo ano ou início de 2022 por culpa de um
governo que não levou a pandemia a sério, não preparou-se para enfrentá-la e
até aqui sequer dispõe de seringas e agulhas para aplicar as vacinas.
Edital
do Ministério da Saúde publicado ontem prevê a aquisição de 300 milhões de kits
de seringas e agulhas. A entrega será permitida até 31 de dezembro de 2021. O
ministério ignora há 6 meses um pedido do Ministério da Economia para que diga se
tem interesse ou não na importação de seringas da China.
“Com
o desastre que é o ministro da Saúde, os militares vão perder o que ganharam de
imagem nos últimos anos após a redemocratização”, afirmou Rodrigo Maia
(DEM-RJ), presidente da Câmara. “Pazuello é um ótimo general para fazer a
logística do Exército, mas, para fazer a logística da Saúde, é um desastre”.
Desastre maior é quem o escolheu para a tarefa.
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