Mateus Vargas / O Estado de S. Paulo
O
ministro Eduardo Pazuello (Saúde) informou que o governo deverá começar a
vacinação contra a covid-19 no Brasil em “meados de fevereiro”, apesar de o
País ainda não ter produtos registrados. No lançamento do plano nacional de
imunização, ontem, a União passou a incluir a Coronavac entre as vacinas que
devem ser adquiridas. O imunizante foi desenvolvido pela chinesa Sinovac em
parceria com o Instituto Butantã, órgão ligado ao governo de SP. O instituto
disse que consegue entregar doses em janeiro. A cerimônia marcou uma mudança de
tom do presidente Jair Bolsonaro em relação ao tema.
Após
meses de embate com governadores sobre o enfrentamento da pandemia, Bolsonaro
pregou “união” com as autoridades estaduais pelo “bem comum” e minimizou
“exageros” ocorridos. O governo sofre pressão para apresentar soluções após
países como Reino Unido e EUA começarem a vacinar a população. O Brasil ainda
não tem imunizantes registrados. Ontem, pela segunda vez consecutiva, superou
900 registros em 24 horas.
Após
meses de embate com governadores sobre o enfrentamento da pandemia, Bolsonaro
pregou “união” com autoridades estaduais pelo “bem comum” e minimizou
“exageros” ocorridos. O governo tem sido pressionado a apresentar soluções,
após Reino Unido e Estados Unidos começarem a vacinar. Por outro lado, o Brasil
assiste a uma escalada de mortes – ontem, pela segunda vez consecutiva, o País
superou 900 registros em 24 horas, segundo dados do consórcio de imprensa
coletados com as secretarias de saúde.
No
plano apresentado ontem, incluiu a Coronavac, desenvolvido pelo laboratório
chinês Sinovac e do Instituto Butantã, ligado ao governo de São Paulo,
comandado por João Doria (PSDB), rival de Bolsonaro.
A
gestão Helder Barbalho (MDB), do Pará, disse que técnicos do ministério
afirmaram, em reunião com governadores, que a pasta prevê fechar esta semana
contrato com o Butantã para comprar 45 milhões de doses. Segundo o governo
paraense, a previsão informada pelo Butantã seria de 20 milhões de doses até 30
de janeiro. O governador do Piauí, Wellington Dias (PT), também citou que o
ministério espera ter doses disponíveis já no mês que vem.
Em nota, o Butantã disse que enviou proposta ao ministério para fornecer doses em janeiro, mas não citou datas ou quantidades. Caso a União confirme a compra, prossegue o instituto, o envio do produto ocorrerá tão logo haja registro da Anvisa. Indagado sobre as falas dos governadores, o ministério voltou a dizer que “não há data definida para início da vacinação” e afirmou que o calendário depende de registro na Anvisa.
Para
começar em fevereiro, Pazuello disse na entrevista coletiva que Butantã e
Fiocruz devem entregar dados finais dos testes clínicos à agência ainda em
dezembro. “Aí teremos janeiro para a análise da Anvisa e possivelmente em
meados de fevereiro para frente estejamos com essas vacinas.” A Fiocruz, vai
produzir doses do imunizante da Universidade de Oxford e do laboratório
Astrazeneca
Mas
os cientistas responsáveis pela vacina de Oxford já reconheceram erros nos
testes e a necessidade de ampliar ensaios clínicos para medir a eficácia, o que
deve atrasar o registro. Já o Butantã trabalha para o registro da Coronavac e
diz que os dados finais chegam à Anvisa no dia 23.
Outro
discurso. O evento teve a presença de governadores da oposição, como os
petistas Wellington Dias e Camilo Santana, do Ceará, e Fátima Bezerra, do Rio
Grande do Norte. Doria não foi. “Se algum de nós extrapolou, ou exagerou, foi
no afã de buscar solução”, afirmou o presidente. Em declarações anteriores, ele
preferiu o confronto. Em outubro, chamou a Coronavac de “vacina chinesa de João
Doria” e disse que não compraria o imunizante. No mês seguinte, comemorou
quando os estudos foram interrompidos.
A mudança de tom ocorre após queda da avaliação positiva de Bolsonaro, de 40%, em setembro, para 35%, segundo dados do Ibope. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEMRJ), disse ao Estadão semana passada que a demora para iniciar a vacinação é o “maior erro político” do presidente e pode afetar o projeto de reeleição. A pressão contra o governo aumentou após Doria prever o início da campanha de vacinação em São Paulo em 25 de janeiro.
No
evento ontem, Pazuello disse que há “desinformação” sobre a capacidade do
Brasil de conduzir a vacinação. “Para quê essa ansiedade, essa angústia? Somos
a referência da América Latina (em imunização)”, disse. “Todas as vacinas
produzidas no Brasil, ou pelo Butantã, ou por Fiocruz ou qualquer indústria,
terá prioridade do SUS. Isso está pacificado.”
Na
nova versão do plano, a pasta afirma já negociar cerca de 350 milhões de doses
para 2021, o suficiente para imunizar 175 milhões de pessoas no País. Além dos
acordos já mencionados na versão anterior do plano, que incluíam as vacinas de
Oxford/ (210 milhões), consórcio Covax Facility (42,5 milhões) e Pfizer (70
milhões), o ministério adicionou ao planejamento 38 milhões de doses do
imunizante da farmacêutica Janssen, também testado no Brasil. Conforme o
governo, 3 milhões de doses dessa vacina seriam ofertadas no 2º trimestre de
2021; 8 milhões, no 3º trimestre; e 27 milhões, no 4º trimestre.
Seringas. Paulo Henrique Fraccaro, superintendente da Associação Brasileira de Artigos e Equipamentos Médicos e Odontológicos, garantiu que não faltará seringa. Com pregão para a compra marcado para o dia 29, afirmou que haverá tempo para que as 330 milhões de seringas que o governo quer comprar sejam entregues de modo escalonado. “Não dá para ser entrega única, mas o momento é positivo. Há três semanas não tínhamos ideia de quando seria o pregão.” Todas as empresas brasileiras produtoras do material, diz, são capazes de entregar volumes mensais de 10 a 20 milhões. á ainda importadoras devidamente regulamentadas atuando no País. / COLABORARAM ROBERTA JANSEN, FABIANA CAMBRICOLI, MARCO ANTÔNIO CARVALHO e JOÃO PRATA
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