Previsões
de PIB em geral estão erradas, mas pobreza vai longe em qualquer estimativa
Vai
demorar até 2023 para que a economia do Brasil volte a produzir o que produzia
em 2019, antes da epidemia. É
o que preveem o FMI (Fundo Monetário Internacional) e a OCDE
(Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), um clube de três
dúzias de países em geral ricos e que inclui Chile, México e Turquia. Quer
dizer, apenas em 2023 o PIB
do Brasil voltaria ao nível de 2019. São as previsões de relatórios
publicados agora em dezembro.
Para
o governo e para o povo do mercado que envia previsões para o
Banco Central, voltaríamos ao nível de 2019 em algum momento de 2022. Não muda
grande coisa, no mundo real. Além do mais, ainda estaríamos na média mais
pobres, pois a população terá crescido. Quer dizer, até 2022, o PIB per capita,
por cabeça, ainda será bem menor do que em 2019 em qualquer dessas
previsões. Aliás,
dificilmente voltaremos ao PIB per capita de 2013 (sim, dois mil e
treze) antes de 2026.
Para piorar, embora a renda média aumente um tico, a dos mais pobres deve ficar para trás pelo menos em 2021. O ano que vem ainda será de epidemia e de emprego difícil no setor de serviços, em particular o informal, onde pobres e miseráveis arrumam algum bico.
E
daí? Previsões
econômicas são necessárias a fim de que tenhamos alguma baliza para
o que fazer da vida, mas em geral estão erradas. Em meados do ano, o FMI previa
que o PIB do Brasil cairia mais de 9% neste 2020. Revisou a estimativa em
outubro (publicada agora), para queda de 5,8%. A
OCDE previa queda de mais de 9% no cenário de duas ondas de epidemia e
de 7,4% no de uma onda só. Agora, prevê ainda queda de brutais 6%.As projeções
de meados do ano não valiam nada, como se vê. Suas premissas deviam ser muito
furadas.
Os
economistas de Paulo Guedes e os do “mercado” no Brasil esperam queda de uns
4,5%. Em meados do ano, previam tombo de 6,6%.
As
previsões de PIB de “o mercado”, publicadas pelo Banco Central, costumam estar
erradas de modo escalafobético, em parte porque há tumultos imprevistos no
mundo e aqui. Consideradas as estimativas de fins de dezembro, estiveram
erradas em dois terços dos anos deste século. Isto é, o resultado do PIB não ficou
nem entre as previsões máxima e mínima.
Isto
posto, FMI e OCDE dizem algo de útil sobre o que fazer? Quase nada além do
manual de “reformas de mercado” e “ajuste fiscal”. O FMI ao menos escreve que é
preciso manter o teto de gastos em 2021, mas o governo deve “estar preparado
para providencia apoio fiscal extra [mais gasto] se a situação econômica
estiver mais fraca” do que o governo espera (para gastar quanto, como e onde?).
Tanto FMI como OCDE (e os economistas de Guedes) acham que é preciso remanejar
despesas (sem furar o teto) para pagar uma renda básica permanente, maior que o
Bolsa Família.
Qual
ajuste fiscal? “Rever” a despesa com servidores, subsídios e gastos tributários
(impostos reduzidos para certos grupos de empresas e indivíduos) e acabar com o
piso de gastos obrigatórios (não citam, mas é o caso de saúde e educação).
A
OCDE diz que a recuperação econômica deve claudicar no início de 2021, por
causa do fim dos auxílios, mas que a vacinação deve reanimar o PIB no restante
do ano.
De mais curioso, escreve que a “insatisfação social” que afetou vizinhos na América do Sul (Chile? Peru? Colômbia?) também pode abalar o Brasil por causa da “deterioração das condições sociais” na epidemia e “pelos escândalos de corrupção que corroeram a fé em instituições públicas”.
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