A linha
divisória entre governo e oposição no Senado é sinuosa, por causa da relação
dos governadores com o governo federal, que funciona na base da velha política
de conciliação
O
velho MDB quer o comando do Congresso. Em decisão salomônica, seus senadores
decidiram lançar candidato próprio à sucessão de Davi Alcolumbre na Presidência
do Senado e definiram o critério para escolha do nome que unificará o partido,
que tem quatro pré-candidatos: o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra
(PE); o líder do governo no Congresso, Eduardo Gomes (TO); o líder da bancada,
Eduardo Braga (AM); e a presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ)
do Senado, Simone Tebet (MS). Será aquele que trouxer mais votos. Velhos
caciques, Renan Calheiros (AL) e Jader Barbalho (PA) atuam nos bastidores para
que o nome seja Bezerra. A maioria dos senadores do MDB é governista de
primeira hora.
O protagonismo de Davi Alcolumbre (DEM-AP) na Presidência da Casa está em ocaso, que pode ser maior do que se imagina, caso o irmão dele seja derrotado, neste fim de semana, na disputa pela Prefeitura de Macapá. Josiel Alcolumbre é candidato à reeleição, mas sua estrela foi eclipsada pelo apagão no Amapá, que durou três semanas. A oposição se unificou em torno da candidatura de Dr. Furlan (Cidadania), que chegou ao segundo turno. O prestígio de Alcolumbre no comando do Senado era resultado de um movimento pendular: o primeiro, à esquerda, garantiu a sua própria eleição, contra Renan Calheiros, com apoio do grupo Muda Senado, na onda do tsunami eleitoral de 2018; o segundo, à direita, possibilitou a aproximação com a ala da bancada do MDB que queria apoiar o governo.
Dono
das pautas do Senado e do Congresso, hábil nas negociações de cargos e avesso
às grandes polêmicas, Alcolumbre foi um boa-praça no comando da Casa, a ponto
de sua reeleição ter sido desejada pela maioria dos senadores. O problema é que
faltou combinar a recondução com o Supremo Tribunal Federal (STF), que a vetou,
na mesma legislatura, como determina a Constituição de 1988. Aliado do governo,
não deixa de ser um interlocutor importante na própria sucessão, mas não
recebeu o apoio que esperava do presidente Jair Bolsonaro para indicar o
senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG) como seu sucessor, num “dedazo”. Dificilmente,
portanto, o DEM terá condições de manter o comando do Senado.
Unido
ao PL, o DEM forma um bloco com oito senadores, muito pouco para enfrentar as
velhas raposas do MDB, cuja bancada tem 13 senadores. Unidos ao PP do se Ciro
Nogueira (PI), somam 23 senadores num só bloco parlamentar. O PSDB forma um
bloco de 10 senadores com o PSL, porém, com a desistência do senador Tasso
Jereissati (CE), anunciada ontem, também não terá candidato. Outro possível
candidato, o senador Antônio Anastasia (PSD-MG) desistiu da candidatura;
pleiteia o comando da poderosa Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Pode
ser que Nelsinho Trad (MS) mantenha a candidatura pelo PSD, mas a tendência da
legenda é buscar um bom acordo com o MDB.
É
muito provável que surja um candidato da oposição à Presidência do Senado, mas
essa articulação passa pelo PT, que forma um bloco com o PROS, de nove
senadores, e o Podemos, com 10. O bloco independente, integrado por Cidadania,
Rede, PSB e um dissidente do PDT, com nove deputados, defende uma candidatura
de renovação, na linha do movimento Muda Senado, mesmo que apenas para marcar
posição. A linha divisória entre governo e oposição no Senado é sinuosa, por
causa da relação dos governadores com o governo federal, que funciona na base
da velha política de conciliação. Por isso, um governista que dialogue bem com
a esquerda e seja bom negociador tem mais chances de ser eleito.
O
atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), vem subindo o tom contra o
presidente Jair Bolsonaro por causa da interferência do Palácio do Planalto na
disputa pelo comando da Casa. Entretanto, enfrenta dificuldades para unificar
seu grupo e costurar uma aliança com a esquerda. O nome mais forte do grupo
ainda é o líder do MDB, Baleia Rossi (SP), que sofre muitas restrições do PT.
Outro problema de Maia é a cobrança que sofre dos correligionários, inclusive
do presidente da legenda, o prefeito de Salvador, ACM Neto, por não ter
articulado uma candidatura de seu próprio partido, que agora se mobiliza para
viabilizar a candidatura de Tereza Cristina.
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