Congresso
para por disputa política, governo inexiste na Economia, na Saúde e na Educação
A
geringonça do “parlamentarismo branco” deu a impressão de que havia algum
governo do país em 2019, embora não houvesse governo propriamente dito. A Câmara dos
Deputados, sob comando de Rodrigo Maia (DEM), aprovou parte das tais
“reformas”, derrubou alguns papeluchos autoritários de Jair Bolsonaro e fez
“notas de repúdio”.
A
geringonça pifou. Não há mais nem impressão de governo do país, pois o
Executivo não faz muito além de destruir ou ser levado pela burocracia estatal.
Não há
governo na Economia. Há um clandestino na Educação que levou uma nas
fuças na primeira decisão inepta que tomou (decretar a
volta das aulas nas universidades federais).
A ordenança de Bolsonaro que toma conta do almoxarifado da Saúde, o general pisado pelo capitão, foi nesta terça-feira ao Congresso dar mais mostras de como trata o repique da epidemia com leviandade. “Ah, ele diz que vai comprar vacina”. Se não dissesse, o que deveria ser feito? Colocar o governo em um camburão, imediatamente?
Desde
o final do ano passado, confrontado com a necessidade de tomar decisões sobre o
gasto público e reformas divisivas, como a tributária ou privatizações,
Bolsonaro para variar fugiu da responsabilidade. Foi para o ralo até a fantasia
de programa
econômico pregada por esse Ministério da Economia balofo,
paquidérmico, incompetente e cúmplice do bolsonarismo.
Para
nenhuma surpresa, Bolsonaro está colocando dinamite na máquina emperrada do
Congresso. Entrou na disputa pelo
comando de Câmara e Senado. Ainda que vença, não terá maiorias
estáveis e deixará raivas sentidas. Até lideranças do centrão preteridas pelo
capitão já se irritam em público.
Os
conflitos dificultam a tramitação de projetos importantes. Até agora não foi
votada nem a “prévia” do Orçamento, a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), um
atraso raro, nessa dimensão, e típico de momentos políticos disfuncionais. É
improvável que o Congresso não vote a LDO até o final do ano. Caso não vote, o
governo fecha, não pode gastar.
A
geringonça entrou em pane em meados deste ano, quando Bolsonaro se viu ameaçado
de impeachment e aumentou o risco de que filhos e empresários amigos fossem
para a cadeia. Juntou-se ao centrão e montou uma coalizão bastante para evitar
que lhe cortassem a cabeça, mas não para muito mais.
O
que havia de governo do país, goste-se ou não do que havia, começou a se
esfumaçar. Era um governo da Câmara, governo possível e muito limitado de um
corpo legislativo no presidencialismo.
Era
também um estratagema de contenção de danos maiores, para o que o Congresso
teve apoio do Supremo. Mas era uma gambiarra que tolerou a presença de
Bolsonaro, movida a jeitinhos ou malversação das capacidades dos Poderes.
A
gambiarra continua. Como se sabe, os líderes políticos do Supremo e alguns do
Congresso tentam burlar a Constituição a fim de permitir a reeleição dos
presidentes da Câmara e do Senado. Por trás dos panos, dizem que a
reeleição permitiria a “contenção” de Bolsonaro (isto é, a tolerância de seus
crimes de responsabilidade menores e o controle dos maiores, sob ameaça de
impeachment).
A isto chegamos. Bolsonaro é desgoverno e campanha permanente para desacreditar instituições e a sanidade (vide seu plano de, desde já, desmoralizar a honestidade da eleição e negar até declarações oficialmente gravadas, caso da gripezinha). A geringonça pifou e sabe-se lá o que vai ser o Congresso de 2021: pode ser muito pior. A tentativa alegada de remediar o desastre é uma mutreta constitucional.
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