Como
citou, certa vez, o senador americano Daniel Patrick Moynihan, “Todo mundo tem
direito às suas próprias opiniões, mas não a seus próprios fatos”. Donald
Trump, seus “engenheiros do caos” e suas verdades alternativas creem que é
possível impor uma narrativa descolada da realidade a partir da repetição
exaustiva da mentira e da manipulação dos algoritmos nas redes sociais, e assim,
mudar as regras do jogo político e a face da sociedade.
A insistência exaustiva sobre fraudes nas eleições foi disseminada bem antes. Diante dos resultados, sucessivos recursos judiciais alimentaram o clima golpista desejado. Paralelo a isso, se deu a pressão sobre as eleições dos delegados ao Colégio Eleitoral. Já na reta final, Donald Trump pressionou o secretário de estado da Geórgia, o republicano Brad Raffensperger, a “encontrar votos” que lhe dessem a vitória. Não satisfeito, Trump infernizou a vida de seu vice e presidente do Senado, o republicano Mike Pence, para que não sancionasse a vitória de Biden.
Todas
as manobras visavam um acontecimento inédito na história da democracia
americana: barrar a posse do presidente eleito e criar o ambiente social
necessário para as ruidosas manifestações que sitiaram o símbolo da democracia
americana, o Capitólio. A gota d’água para estimular a agressão ao Congresso
foi o discurso de Trump, incentivando a marcha que resultou nos dramáticos
acontecimentos ocorridos, inclusive cinco mortes. Ainda sobrevive no ar uma
névoa de dúvidas sobre o que poderá acontecer até a posse de Joe Biden.
Imediatamente,
houve ampla reação internacional com pronunciamentos contundentes de líderes
como Macron e Merkel, entre outros, preocupados com o estímulo a reações
semelhantes de agressão à democracia no restante do mundo.
O
posicionamento da sociedade civil, da imprensa, de partidos, de setores
empresariais, nos EUA e mundo afora, foi unânime em condenar o atentado e
defender a democracia. As redes sociais bloquearam as contas de Trump.
Para
o Brasil ficam lições importantes. É preciso, até 2022, fortalecer a cultura
democrática. O nacional-populismo autoritário não é obra de lideranças, loucas e/ou
fascistas, isoladamente. É um fenômeno social de massas a partir da
insatisfação de diversos segmentos sociais e não só do núcleo ideológico
radical. Precisamos defender com firmeza a integridade de nosso sistema
eleitoral e da urna eletrônica, que desde 1996, produziram um dos mais modernos
processos de votação e apuração do mundo. Defender as instituições, a
Constituição e as regras do jogo. Estancar a tentativa de politização das
Forças Armadas e das polícias estaduais e a liberalização excessiva da venda de
armas e munições. As milícias ideológicas armadas existentes nos EUA ainda poderão
produzir tristes fatos até a posse de Biden. Não é um bom exemplo a seguir.
Democracia
é liberdade, debate aberto, contenção no uso do poder, respeito aos adversários,
debate, diálogo, formação de consensos, eleição e subordinação às regras e à
alternância no poder.
Os
acontecimentos de 6 de janeiro fortalecem a convicção que quase nunca o que é
bom para os EUA é bom para o Brasil.
*Marcus
Pestana, ex-deputado federal (PSDB-MG)
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