O
Brasil só teria a ganhar com isso
Políticos de faro aguçado e olhar de águia, alguns com mandato e outros sem, detectaram nos últimos dias o crescimento do número de deputados federais e de senadores favoráveis à abertura de um processo de impeachment contra o presidente Jair Bolsonaro.
Isso
poderá se dar enquanto Rodrigo Maia (DEM-RJ) ainda for presidente da Câmara – e
faltam apenas 16 dias para que deixe de ser. Ou então se o deputado Baleia
Rossi (MDB-SP), candidato de Maia e da oposição ao governo, sucedê-lo no cargo.
Bolsonaro,
como qualquer presidente da República até mesmo na época da ditadura militar,
coleciona derrotas. O Presidente pode muito, não tudo. Mas ele só faz perder
desde que decidiu tratar a Covid-19 como se não passasse de uma reles
gripezinha.
Não
procedeu assim somente por ignorância, embora no seu caso a ignorância seja
abissal, também por cálculo. Acreditou que o vírus seria detido matematicamente
depois de infectar 70% dos brasileiros. Acima de tudo, o importante era salvar
a economia.
Que morressem, portanto, os que tivessem de morrer – e Bolsonaro jamais imaginou que morreria tanta gente que não fosse apenas velha e sofresse de outras doenças. O kit de drogas ineficazes recomendado por ele era para dar tempo ao tempo.
O
vice-presidente Hamilton Mourão disse mais de uma vez que a situação estava sob
controle rigoroso – só não sabia por quem. Depois de livrar-se de Luiz Mandetta
na Saúde e de Sérgio Moro na Justiça, Bolsonaro achou que controlava todas as
ações.
Quebrou
a cara, como agora deve ter percebido. Ocorre que quebrou a cara a um preço
para além do suportável pela maioria dos seus governados. Líder político algum
desdenha da morte sem ser punido, e ele desdenhou. Pagará caro por isso. Bom
que pague.
Por
mais que fale que o Supremo Tribunal Federal o impediu de combater o
coronavírus, como só ontem falou mais de 20 vezes em 53 minutos de palanque que
lhe ofereceu Luiz Datena em seu programa na BAND, é difícil que consiga novos
adeptos.
Por
mais que ataque o governador João Doria (PSDB-SP) dizendo que ele não é homem,
veste calça apertada e quis destruir a economia com medidas de isolamento
social, não apagará a realidade de que Doria tem a vacina e ele, não.
Quando
Manaus parou de respirar devido à falta de oxigênio, Bolsonaro tentou distrair
a atenção do seu público cativo com a promessa de que a vacinação em massa
teria início na próxima terça-feira – o tal do Dia D do general Eduardo
Pazuello.
Não
havia vacina garantida. O avião com destino à Índia para buscar 2 milhões de
doses ficou retido no Recife. O jeito foi Bolsonaro se render à vacina da
China, do Butantã e de Doria. Quer confiscar todo o estoque guardado em São
Paulo.
Essa
é uma fragorosa derrota capaz de marcar para sempre um desgoverno. Maior do que
essa, talvez o impeachment que para Bolsonaro não seria tão mal assim. Diria
que foi vítima de um golpe, desfrutando até morrer dos privilégios de um
ex-presidente.
De
todo modo, o Brasil sairia no lucro se isso de fato acontecesse.
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