Proteger
a integridade das eleições será o maior desafio dos que prezam pela democracia
Eleições
livres e justas e a alternância no poder são elementos fundamentais à vida
democrática. A maioria dos governantes
populistas, no entanto, resiste a deixar o poder após uma derrota eleitoral
ou mesmo ao término de seus mandatos, como nos alerta Yascha Mounk, autor de “O
Povo contra a Democracia”.
Na
medida em que o líder populista se define como único e autêntico representante
da vontade popular, um eventual resultado desfavorável nas urnas sempre poderá
ser atribuindo a falhas no processo eleitoral. Trata-se, portanto, de uma estratégia
preventiva de populistas autoritários para buscar se manter indefinidamente no
poder.
Como outros populistas, desprezou as ameaças da pandemia, promoveu aglomerações, combateu a ciência e o uso da máscara, contribuindo, assim, para a morte de quase 400 mil compatriotas. Tudo isso sob olhar cúmplice de grande parte dos republicanos, de empresas de tecnologia e de outros setores potentes da economia que agora, constrangidos, dele buscam se afastar.
A
credibilidade do processo eleitoral nunca saiu da mira da máquina de mentiras
de Trump. Na iminência da proclamação da vitória de Joe Biden, não foi difícil
incitar seus seguidores mais radicais a empunhar as insígnias da extrema
direita norte-americana e marchar sobre o Capitólio e a Constituição.
Ao
longo das últimas duas décadas, o Brasil construiu um sistema
de votação eletrônico que tem se demonstrado não apenas íntegro, mas
extremamente eficiente. As deficiências de nosso sistema eleitoral, como
desinformação, “candidaturas laranja”, financiamento ilegal e mesmo a
violência, não dizem respeito, em absoluto, ao processo de votação eletrônico.
Jamais
se comprovou, desde a implantação da urna eletrônica, qualquer falha relevante
que impactasse o resultado de uma eleição. Exigir o voto impresso é uma
tentativa de retroagir ao voto de cabresto, em que o eleitor terá que comprovar
em quem votou ao miliciano de plantão, além de favorecer uma interminável
judicialização do resultado das eleições.
Por
não operarem em rede, nossas urnas eletrônicas têm evitado a ação de hackers.
Cada urna é auditada antes da votação, para que se certifique que não recebeu
nenhum voto antecipadamente. Ao término da votação a urna emite um boletim,
impresso, com o número de votos de cada candidato. Partidos, fiscais, OAB e o
Ministério Público têm amplo acesso a todo um processo supervisionado pela
Justiça Eleitoral. O TSE também convida observadores internacionais, como a
Missão de Observação Eleitoral da OEA, para acompanhar nossas eleições.
A invasão
do Capitólio nos ensina que a persistente tentativa de deslegitimar o
sistema de escolha eleitoral por populistas não pode, em hipótese alguma, ser
negligenciada. Seu único objetivo é fomentar a subversão democrática.
O
maior desafio daqueles que prezam pela democracia no Brasil, não importa em que
posição do arco ideológico se encontrem, é construir um amplo pacto de proteção
à integridade das eleições de 2022, para que não corramos o risco de submergir
num vertiginoso processo de vandalização de nossa democracia constitucional.
*Oscar Vilhena Vieira, professor da FGV Direito SP, mestre em direito pela Universidade Columbia (EUA) e doutor em ciência política pela USP.
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