Busca
por protagonismo faz parte do DNA de partidos, e importa na escolha da
trajetória política
Na
ausência de blocos e troças carnavalescas nas ruas nesse carnaval da pandemia,
o que predominou foi a melancolia de seus foliões. Por outro lado, para
diminuir o vazio no coração dos seus brincantes, o que não tem faltado são
partidos querendo cacifar seus candidatos a presidente para as eleições de
2022.
Insatisfeitos
com o governo de Jair Bolsonaro têm defendido a
necessidade de formação de uma frente suprapartidária de oposição ao
presidente. O objetivo seria viabilizar uma candidatura única capaz de
derrotá-lo. Acredita-se que se os partidos de oposição se apresentarem
pulverizados, cada um com seu “bloco” (ops! candidato) à presidência, Bolsonaro
teria maiores chances de se reeleger. Mas a viabilidade de uma frente única de
oposição é improvável.
Partidos políticos em ambiente institucional que combina presidencialismo e multipartidarismo vivem um dilema de difícil resolução: seguir uma trajetória protagonista/majoritária, ao apresentar um candidato à Presidência; ou jogar o jogo de partido coadjuvante, tentando exercer o papel de pivô ou de mediano do Legislativo.
Se o partido for vencedor na trajetória majoritária certamente terá acesso aos maiores retornos políticos. Mas se perder, terá que estar preparado para comer “o pão que o diabo amassou” e amargar a condição de majoritário perdedor com os piores retornos pelos próximos quatro anos, nutrindo a expectativa de se tornar majoritário vencedor nas próximas eleições. Por outro lado, se o partido decidir seguir a trajetória de legislador mediano e ocupar a posição de âncora no Legislativo, pode auferir retornos intermediários entre os obtidos pelos majoritários vencedor e perdedor.
A
escolha de uma determinada trajetória não é uma camisa de força. Partidos podem
mudar de trajetória, mas estas mudanças geram custos não triviais.
Por
exemplo, um partido pivô no Legislativo que decide mudar de trajetória para
jogar o jogo majoritário corre o risco de perder a próxima eleição presidencial
e assim obter uma recompensa menor do que obteria se tivesse continuado a jogar
o jogo coadjuvante. Da mesma forma, se um partido trilha a trajetória
majoritária e fracassa, pode mudar de trajetória e começar a jogar o jogo do
partido coadjuvante. Mas, dependendo de quão amarga e competitiva foi a
campanha presidencial, pode levar mais tempo para que o perdedor majoritário
envergonhado construa pontes de confiança e de cooperação com o vencedor
majoritário.
O racha ocorrido com o DEM na eleição
do Presidente da Câmara expressa muito bem esse dilema. Rodrigo Maia tentou alçar o DEM a
um voo rumo ao protagonismo, talvez com a candidatura de Luciano Huck à presidência. Mas a
bagagem pesada — sua trajetória mediana — obrigou o partido a uma aterrissagem
de emergência num descampado no interior da Bahia... A maioria do DEM, sob a
liderança de ACM Neto, simplesmente preferiu
continuar na sua trajetória coadjuvante. Os riscos e custos de mudança de
trajetória seriam altos demais. O mesmo comportamento se espera do MDB, PSD,
PTB, PSB, PC do B e aos partidos que compõem o Centrão.
Por
outro lado, partidos como o PT e PSDB, que têm trilhado de forma
consistente a trajetória majoritária desde o seu nascimento, seja na condição
de perdedor ou de vencedor, fatalmente terão candidatos à presidência em 2022.
Raciocínio semelhante a aplica a partidos como PDT, PSOL, Novo e Rede.
Partidos
têm muita dificuldade de abrir mão de suas ambições individuais, ainda que
legítimas, e se engajar em um projeto coletivo que, supostamente, beneficiaria
a todos. A busca pelo protagonismo faz parte do DNA desses partidos, daí ser
improvável a mudança de trajetória.
*Cientista Político e professor titular da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas (FGV EBAPE)
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