Depende
do preço a ser pago
Depois
de protocolado há mais de 10 dias, o requerimento de criação da CPI da Pandemia
continua com o mesmo número de assinaturas, cinco a mais do que o necessário
para que fosse instalada. Mas Rodrigo Pacheco (DEM-MG), presidente do Senado,
que posa de independente do governo, só observa.
Por
que será? Ora, porque ao governo tudo interessa, menos uma CPI que investigue a
fundo sua responsabilidade na tragédia que já consumiu quase 250 mil vidas,
deixando pouco mais de 10 milhões de brasileiros doentes. A situação tende a
piorar porque falta vacina e sobre incompetência no Ministério da Saúde.
Pacheco
está dando tempo ao governo para que consiga convencer pelo menos 6 senadores a
retirarem suas assinaturas do requerimento. Não será impossível que isso
aconteça dado o sortimento de cargos e outras sinecuras a serem oferecidas aos
mais receptivos. Mas não será fácil.
Houve um senador que morreu contaminado pelo vírus. Senador que viu a mãe entubada. Além de senadores que perderam muitos amigos.
Bom
dia, Venezuela! Ou bom dia, Brasil, um país sem sossego!
Perguntas
à espera de respostas
Dê-se
crédito ao presidente Jair Bolsonaro. Quando se sabe o que quer e não se perde
o foco, demitir o presidente da maior empresa da América Latina, com ações
negociadas nas principais bolsas de valores do mundo, é tão fácil como passear
de jet-ski em qualquer parte do litoral do país para atrair devotos.
O
economista Roberto Castelo Branco foi demitido por meio de um curto post nas
redes sociais. No próximo mês, completaria dois anos à frente da Petrobras. Os
acionistas estavam felizes com sua administração. Ele navegava em mar de
almirante até que Bolsonaro acordou um dia e decidiu mandá-lo embora.
Simples
assim. O preço do diesel havia sido reajustado porque variava de acordo com o
câmbio e o preço do barril de petróleo. É assim nas chamadas economias de
mercado. Quando não é, dá no que aconteceu com a Venezuela, onde o ex-presidente
Hugo Chávez interveio na Petrobras de lá e depois disso ela quebrou.
Bolsonaro
sempre se apresentou como o inverso de Chávez e do seu sucessor Nicolás Maduro.
Serviu ao ex-presidente Donald Trump como uma espécie de posto avançado contra
o chavismo por essas bandas. Na verdade, revela-se tanto ou mais populista do
que Chávez e Maduro. E, como eles, conta com apoio militar.
A
Petrobras perdeu em 24 horas R$ 28 bilhões de seu valor. Hoje, tão longo abra a
Bolsa de Valores, perderá muito mais com a desvalorização do preço de suas
ações. A levar-se a sério o que disse Bolsonaro quando demitiu Castelo Branco,
“o mercado fica irritadinho com qualquer negocinho”, e ele pouco liga.
Na
ocasião, saiu-se com a mais fina pérola da demagogia ao afirmar que os operadores
financeiros não “sabem o que é passar fome”. Ele e seus filhos não sabem, todos
criados com recursos da União. Como não querem abrir mão da vida boa que levam,
a saída é perpetuar-se no poder enquanto der. Reeleição! Reeleição!
Os
caminhoneiros ameaçavam com uma greve em protesto contra o reajuste do diesel?
Adeus, Castelo Branco, que levava a sério a política de recuperação da
Petrobras desde quando ela quase afundou no período dos governos do PT.
Nomeie-se para o cargo mais um militar acostumado a bater continência ao chefe.
O
general Joaquim Silva e Luna, ex-ministro da Defesa do presidente Michel Temer,
será a voz do dono e não o dono da voz. Como é o general Eduardo Pazuello,
notável especialista em logística, ministro da Saúde. Como são todos os
militares que em troca de polpudos salários se tornaram serviçais do capitão.
Missão
dada é missão cumprida. Manda quem pode, obedece quem tem juízo. Quem
desobedece ou ensaia discutir ordens perde o emprego. Foi o caso do general Rego
Barros, porta-voz de um presidente que não carece de quem porte sua voz. Foi
também o caso do general Santos Cruz, vítima do gabinete do ódio.
A
semana começa com uma série de perguntas nervosas. Se Luna, como garantem os
apagadores de incêndio da presidência da República, não mudará a política
realista de preços da Petrobras, ora, diabos, então por que Bolsonaro despachou
Castelo Branco? Só para engabelar os caminhoneiros por mais algum tempo?
A
troca de comando na Petrobras significa o rompimento definitivo de Bolsonaro
com os fundamentos do liberalismo econômico ou mais uma vez ele recuará?
Bolsonaro, agora, quer meter o dedo no setor de energia elétrica. Foi o que
prometeu. E Paulo Guedes, ministro da Economia, até quando ficará onde está?
Bom dia, Venezuela! Ou bom dia, Brasil, de um presidente tresloucado que não concede ao país um só dia de calma!
Nenhum comentário:
Postar um comentário