Há
muitos 'presidenciáveis' em cogitação, mas não há o fundamental: nem uma boa
articulação democrática, nem um programa mínimo com que tirar o país do buraco
em que se encontra.
O
açodamento, em política, é inimigo do protagonismo inteligente. Hoje, faltando
quase dois anos para as próximas eleições, andam todos em busca do candidato
“campeão”, aquele que será capaz de bater nas urnas o capitão cloroquina, hoje
tido como adversário de respeito e o mais forte no ringue.
Pelo centro e pela esquerda a especulação campeia, juntamente com balões de ensaio em profusão e muito movimento de ocupação de espaço. Há quem busque se cacifar com antecedência, caso de João Dória, que põe em curso uma operação desenhada para fracassar, seja pela falta de carisma do personagem, seja por sua baixa densidade nacional, seja pela incapacidade de ser um ponto de convergência consistente do centro liberal-democrático.
Há os que procuram um nome de “fora da política”, capaz de fornecer ao eleitorado uma perspectiva de renovação, derivada da ideia de que o eleitor médio está cansado dos mesmos de sempre. Chega-se mesmo a ventilar o nome da empresária Luiza Trajano, nome digno mas que está anos-luz distante de uma briga eleitoral mais profissional. Passa-se o mesmo com Luciano Huck, cuja juventude e cujo dinamismo podem estar sendo desperdiçados por falta de definições e bases sólidas de sustentação. Lula, por sua vez, incapaz de agir em articulação com os vários pedaços da esquerda, diz para Fernando Haddad “por o bloco na rua” e o ex-prefeito de São Paulo obedece, sem levar em conta os humores do próprio partido. Ciro Gomes mexe-se o tempo todo, mesmo que em silêncio e sem sair do lugar.
E
isso para não falar dos que se aproveitam da conjuntura para atiçar a luta
interna nos partidos.
Há
nomes sendo cogitados, mas não há o fundamental: nem uma boa articulação entre
as correntes democráticas, nem um programa mínimo com que tirar o país do
buraco em que se encontra. Sem isso, nomes ficarão a flutuar, sem agarrar coisa
alguma. E aquele que está mais assentado (no caso, o presidente da República)
vai não só mantendo posição como pondo em curso o projeto de dividir e
impulsionar a “implosão” dos partidos institucionalmente mais fortes (DEM,
PSDB) do centro democrático. Até agora, ele está nadando de braçada.
Muitas
águas vão rolar, com certeza, ao longo de 2021. Mas só promoverão dilúvios
desagregadores se não houver esforços tenazes para construir diques
democráticos de sustentação, que agreguem o que está sendo atacado pelo vírus
demoníaco da divisão e do açodamento.
*Marco Aurélio Nogueira, professor titular, Teoria Política da Unesp
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