O
livro "General Villas Bôas - conversa com o comandante", do professor
da FGV Celso Castro, joga luz sobre a
atuação dos militares no período mais turbulento da história
recente do país, que vai do impeachment de Dilma Roussef à eleição de Jair
Bolsonaro.
A
revelação mais importante é sobre o famoso tuíte
do comandante do Exército, em abril de 2018, com ameaças ao STF na
véspera do julgamento do habeas corpus do ex-presidente Lula. Villas Bôas
informa que o tuíte teve um "rascunho" e que foi "discutido
minuciosamente" por generais do Alto Comando. Nas palavras do
entrevistado: "Recebidas as sugestões, elaboramos o texto final, o que nos
tomou todo o expediente, até por volta das 20h, momento em que liberei o
CComSEx [centro de comunicação do Exército] para expedição."
Sim, foi isso mesmo que você leu. Villas Bôas confessa que a tradição golpista segue firme e forte entre os fardados e que o topo da hierarquia do Exército tramou para afrontar a mais alta corte do Judiciário brasileiro. Qual o comando constitucional que autoriza militares a exercer tutela sobre o poder civil? Em nome de quem? Como se sabe, o Supremo rejeitou o HC de Lula, preso dias depois. E agora, STF?
Em
meio a tortuosos raciocínios sobre geopolítica e um ego que transborda das
páginas, Villas Bôas deixa claro que as Forças Armadas não engoliram a Comissão
Nacional da Verdade ("foi uma facada nas costas"), dá versões
duvidosas sobre alguns acontecimentos e faz comparações despropositadas. Uma
delas: que a desintrusão de não indígenas da reserva Raposa Serra do Sol (RR)
equivale aos "pogroms de Stalin" na extinta União Soviética.
De volta à política 30 anos depois do fim da ditadura, os militares ocupam milhares de cargos, acumulam salários, privilégios e benesses. De mãos dadas com Bolsonaro, também são responsáveis pela catástrofe que já custou a vida de 240 mil brasileiros, até agora. A grande dúvida é quando —e se— será possível mandá-los de volta para os quartéis.
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