Bolsonaro
ganhou – e o Centrão mais do que ele
Jair
Bolsonaro pagou uma fortuna ao Centrão para derrotar o que lhe pareceu ser o
germe de uma aliança de parte da esquerda e da direita para minar suas chances
de se reeleger em 2022.
A
partir de agora, pagará outra para que o Centrão apoie no Senado e na Câmara
dos Deputados os projetos do seu governo que não conseguiram avançar quase nada
por culpa dele mesmo.
Uma
vez de novo candidato a presidente, pagará uma terceira fortuna no mercado
futuro para evitar que o Centrão se bandeie para o lado de seus possíveis
adversários.
Deu
Rodrigo Pacheco (DEM-MG) para presidente do Senado, como previsto. Deu Arthur
Lira (PP-AL) para presidente da Câmara depois que o DEM largou de mão Baleia
Rossi (MDB-SP).
Foi
o enterro da Nova Política prometida por Bolsonaro há dois anos, e a
ressurreição com todo o seu esplendor da Velha onde, por sinal, Bolsonaro se
criou durante quase 30 anos.
Eleito, Pacheco falou em Senado independente, em auxílio emergencial para os brasileiros mais pobres atingidos pela pandemia, mas não só, e em reformas na economia.
Lira
falou em Câmara “independente, mas harmônica”. Quer dizer: uma Câmara que, de
preferência, aprove todas as pautas de interesse de Bolsonaro e que evite
contrariá-lo.
Lira
e o Centrão não podem garantir que será assim. Primeiro porque não detém votos
suficientes para fazer todas as vontades de Bolsonaro. Segundo porque o Centrão
não é uma coisa só.
Pesou
na eleição de Lira o dinheiro gasto pelo governo na compra de votos, mas pesou
também a diferença dos perfis de Lira e de Rossi, e o modo como Rodrigo Maia
(DEM-RJ) escolheu Rossi.
Lira
é um rato de plenário. Rato no sentido de que vive ali circulando por toda
parte, participando de todas as rodas de conversa, cumprimentando todo mundo. É
muito habilidoso.
Nunca
distinguiu entre colegas notáveis e colegas do baixo clero. Rossi, como líder
do MDB, fazia o oposto. Vivia no seu gabinete. Aparecia nas reuniões de
líderes. Nunca foi popular.
O
patrocinador de Lira foi Bolsonaro, que quando quer ser simpático no trato com
ex-colegas, sabe ser. O patrocinador de Rossi foi Maia, um centralizador sisudo
e às vezes de maus bofes.
A
pretensão de Bolsonaro é fazer do Congresso um anexo do Palácio do Planalto,
onde ele despacha no terceiro andar. Não é certo que consiga mesmo que continue
pagando caro por isso.
Senadores
e deputados só pensam na reeleição ou na eleição para outros cargos. O mais
bobo deles conserta relógio suíço usando luvas de boxe, como disse um dia o
deputado Ulysses Guimarães.
Presidente
da República pode pedir a um parlamentar o que quiser, só não pode pedir ou
esperar que ele politicamente se suicide. Não haverá um único capaz de
atendê-lo.
Com
Pacheco e Lira, o Congresso escolheu caminhar na direção oposta à que o país dá
sinais de que caminha ao distanciar-se de Bolsonaro. Mais adiante os dois
poderão se reencontrar – ou não.
Para
onde irá Rodrigo Maia? E o DEM de ACM Neto?
Na direção dos ventos
Nada
de convidar para a mesma mesa, pelo menos nem tão cedo, o deputado Rodrigo Maia
(RJ), que ontem se despediu com lágrimas da presidência da Câmara, e ACM Neto,
ex-prefeito de Salvador e presidente nacional do DEM, o partido de Maia.
Os
dois pareciam se entender apesar das diferenças de estilo – Maia estourado e
centralizador, ACM Neto calmo e disposto a fazer a vontade da maioria do seu
partido. O rompimento se deu quando Maia escolheu Baleia Rossi (MDB-SP) para
sucedê-lo.
Candidato
ao governo da Bahia em 2022, ACM deu ouvidos aos deputados baianos que
preferiam apoiar Arthur Lira (PP-AL), candidato de Bolsonaro, deixando Maia
pendurado no pincel. Maia anunciou que sairá do DEM, para onde ainda não sabe.
O
destino de Maia só importa a ele e aos seus eleitores. O do DEM importa aos
demais partidos que esperavam contar com a companhia dele para a formação de
uma frente capaz de impedir a eventual reeleição do presidente Jair Bolsonaro.
O
DEM com Rodrigo negociava com o CIDADANIA e outras legendas o possível apoio à
candidatura do apresentador de televisão Luciano Huck. Mas não descartava
apoiar a candidatura do governador de São Paulo, João Doria (PSDB).
Sem
Rodrigo, ou com um Rodrigo murcho, o DEM poderá tomar outro rumo. O
partido tem dois ministérios no governo Bolsonaro – o da Agricultura e o da
Cidadania. Tinha três quando o médico Luiz Henrique Mandetta era ministro da
Saúde.
Poderá
abiscoitar o Ministério da Educação ou outro qualquer, desde que queira
aproximar-se ainda mais de Bolsonaro. O avô de ACM Neto apoiou todos os
governos da ditadura militar de 64, e quando viu que ela estava no fim, aderiu
à oposição.
Neto aprendeu com ele a se antecipar à mudança de direção dos ventos. Seus próximos passos poderão indicar para que lado eles irão soprar.
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