Atividade
dinâmica, a política é cruel. Há três meses, o Dem saía das urnas municipais
quase consagrado – era o mais vistoso. Rodrigo Maia colhia os maiores louros. O
então presidente da Câmara posicionava-se como o aglutinador do chamado
“centro”, o “sujeito do diálogo” pelo qual, não sem motivo, muitos clamavam.
Com vistas em 2022, Maia seria a ponte desde o centro direita até o centro
esquerda. Independente do candidato à presidência desse amplo espectro, certo é
que Maia seria um dos articuladores do que se pretendia “uma frente ampla”.
A fama que Maia construiu não foi imerecida: no longo período em que se manteve à frente da Câmara, deu extraordinário salto de importância; interveio no debate nacional, propôs. No mais, não se deixou levar pelo canto que lhe oferecia o lugar de Michel Temer; articulou o teto de gastos e a reforma da Previdência – com todos seus erros, acertos e inevitabilidades –, defendeu as prerrogativas do Congresso Nacional e seu papel de freio e contrapeso ao bolsonarismo.
A
possibilidade de continuar no centro da cena, foi-lhe, porém, corretamente
negada pelo Supremo. O papel da aglutinação foi-lhe retirado pelos próprios
correligionários do Dem, pelos parceiros do PSDB e de outros partidos em que,
entre a fidelidade ao líder e a fidelidade a seus próprios interesses, ficaram
naturalmente consigo mesmos. Como demonstrou O Estadão (aqui),
as verbas do governo tiveram poder irresistível diante do apetite dos
parlamentares. Sem conexão com o Executivo, Maia (e Rossi) tornou-se pão
dormido; no curto prazo, não apeteceria aquele tipo de paladar; deixou de ser
perspectiva de poder.
Para
reaver a esperança de exercer papel relevante em 2022, o emotivo ex-presidente
terá que se reconstruir. Rapidamente, numa dinâmica mais vertiginosa que sua
queda. Como diz a canção, se seu mundo caiu, carece aprender a levitar. E
haverá ambiente para isso.
Nesta
terça-feira, Câmara e Senado amanheceram com novos presidentes, ambos apoiados
por Jair Bolsonaro — quem, um dia, estimulou sua turba a fechar as duas Casas.
Terá mudado de ideia? O tempo dirá. O processo político não depende apenas da
vontade dos atores; menos ainda das confabulações em torno de cargos e emendas.
Bem ou mal, há uma sociedade com expectativas, interesses, desesperos e, às
vezes, indignação. Os desafios para contentá-la são gigantes. Já a dimensão do
entendimento dos problemas do país e a efetividade da ação governamental para
resolver múltiplas crises é ínfima.
A
situação interna se deteriora, o respeito externo ao país derrete. Paciência e
resignação têm limites; os leões da morte, do desemprego e da fome rugem. E o
centrão ouve mal. Tome-se o programa (sic) que Arthur Lira expôs da tribuna, ao
defender a candidatura e mesmo as platitudes mencionadas, já eleito: foram
discursos de, para e pelo “baixo clero”. No máximo, espumas sobre o país,
democracia, autonomia do Legislativo. Nada muito além disso. Não falou para o
Povo. Antes, dirigiu-se a seus pares — o seu povo verdadeiro. Ao que tudo
indica, isso não bastará. Se houver, o engenho e a arte — que têm faltado —
haverá espaço para vários Maias.
*Carlos Melo, cientista político. Professor do Insper.
Nenhum comentário:
Postar um comentário