Vitória
de Arthur Lira na Câmara revela a opção de Bolsonaro por fazer política
Aos
olhos dos críticos do governo resultado do “toma lá da cá”. Sob a ótica dos
seus defensores, mais um sinal do pragmatismo do presidente. De todo modo,
a vitória de Arthur Lira (Progressistas–AL) é
mais um passo ao retorno do presidencialismo de coalizão. O próprio presidente
externou a disposição em afetar o resultado para presidência da Câmara. O
discurso refratário à política tradicional ficou na memória política
brasileira, o interregno da nova política teve pouca duração. O presidente e
seu núcleo político aprenderam que sob administração minoritária, a
estabilidade política se torna uma commodity escassa, flutuando ao sabor da
conjuntura.
Em boa medida, a busca por uma coalizão estável parece refletir não apenas ensinamentos do passado, mas especialmente a antecipação de um quadro político turbulento. O debate sobre a interrupção sobre possível processo de impeachment e os entraves da agenda do governo, de fato, sugerem a metade final da administração bastante instável, especialmente diante de um perverso quadro de pandemia. O governo tinha uma decisão a tomar: mitigar tais pressões por meio da mobilização direta da base de apoio bolsonarista nas redes sociais ou partilhar o poder com as lideranças legislativas. Dito de modo mais direto: escolher entre o presidencialismo plebiscitário ou o presidencialismo de coalizão. A vitória de Lira revela a opção por fazer política.
O
projeto de Lira está associado ao governo. O deputado alagoano pertence ao
partido cujo presidente nacional abriu as portas da legenda à filiação do
presidente Bolsonaro, o que serve de interpretação de ganhos expressivos de
governabilidade no biênio final do mandato. As reformas econômicas, enfim,
seriam destravadas.
O
deputado do Progressistas defende a “Câmara do nós”, ou seja, a Câmara que
representa a maioria do plenário, sem ação estratégia do presidente no controle
da agenda. Dito de outro modo: o governo do “Centrão”, rótulo defendido por
Lira como força moderadora.
Um
governo do Centrão,
basicamente, representa decisões de legendas e líderes com baixo capital
reputacional e pouca ambição de um projeto nacional. Assim, a implicação
efetiva em termos de governabilidade depende das preferências dessa maioria e
das intenções do governo ao mobilizar seus recursos para Lira.
O
objetivo central da aproximação parece ser política, expresso na busca pela
proteção do mandato e pela desidratação do projeto eleitoral rival na
centro-direita. Lira não foi eleito como o mandato para implementar reformas
liberais.
O
presidencialismo de coalizão em si mesmo não define qualidade das políticas e
depende da liderança presidencial. O desafio é transformar um acordo reativo em
um projeto de reeleição comum, fazendo essa maioria legislativa votar temas
espinhosos em nome de mais votos em 2022.
*Rafael
Cortez é sócio da Tedências Consultoria e doutor em Ciência
Política (USP)
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