A
vitória de Arthur Lira sela o enlace entre Jair Bolsonaro e o Centrão. É um
casamento de interesses, ditado pela gula dos parlamentares e pelo instinto de
sobrevivência do governo.
Na
campanha de 2018, o capitão definiu o grupo como “a nata do que há de pior” no
Brasil. Ao subir a rampa, ele continuou a tratar a turma com desdém.
Partidos
como o PP de Lira e o PTB de Roberto Jefferson, acostumados a abocanhar cargos
em todas as gestões anteriores, viram-se preteridos na partilha de ministérios
e estatais.
Foi
uma surpresa amarga para as duas legendas, que haviam oferecido abrigo ao então
deputado Bolsonaro por mais de uma década.
O
ensaio de independência durou enquanto o presidente se julgava forte o
suficiente para governar sem dividir poder com o Congresso. Essa situação mudou
com a queda de popularidade e com o cerco judicial aos filhos do capitão.
Fragilizado, Bolsonaro se rendeu ao Centrão e decidiu abrir os cofres para comprar proteção parlamentar. O investimento em Lira representa a contratação de um seguro contra o impeachment, cuja apólice terá que ser renovada periodicamente até 2022.
O
Planalto tem muitos motivos para festejar. No médio prazo, o presidente tende a
afastar a ameaça de um processo de cassação.
Apesar
de seus múltiplos e repetidos crimes de responsabilidade, Bolsonaro deverá
continuar na cadeira até o fim do mandato. Mesmo que a sua permanência
signifique o aumento de mortes que poderiam ser evitadas se o país tivesse um
governante interessado em conter a pandemia.
Lira
também deverá bloquear qualquer tentativa de instalação de CPI para apurar a
omissão do Planalto no combate ao coronavírus.
Alinhada
ao bolsonarismo, a Câmara tende a lavar as mãos diante da crise humanitária em
estados como o Amazonas, onde pacientes continuam a morrer sufocados pela falta
de oxigênio.
O
desperdício de dinheiro público na produção de cloroquina, a negligência na
negociação de vacinas e os desmandos do ministro Eduardo Pazuello também
deverão continuar impunes.
De
brinde, Bolsonaro foi dormir com a notícia da derrota acachapante de Rodrigo
Maia, cujo candidato, Baleia Rossi, recebeu apenas 145 votos.
Rifado
por seu próprio partido, que o abandonou a menos de 24 horas da votação de
ontem, o agora ex-presidente da Câmara arrisca encerrar o mandato como um
zumbi.
A
julgar pelas expectativas do governo, a vitória de Lira não se limitará a
blindar Bolsonaro. O capitão também espera destravar pautas reacionárias como a
liberação das armas e o desmonte da legislação ambiental.
No entanto, ele poderá ser obrigado a pagar ainda mais para ver. Discípulo de Eduardo Cunha, Lira sabe como inflacionar o preço de favores e votações. Agora que ele assumiu o volante, o taxímetro do apoio ao governo passará a correr na bandeira dois.
Nenhum comentário:
Postar um comentário