Presidente
dirá que causou a recuperação gerada pela vacinação que sabotou
Como
disse em meu artigo publicado na Ilustríssima, a entrada
de um Lula moderado na disputa eleitoral de 2022 mudou completamente o
quadro político brasileiro. Lula moderado é um polo de oposição muito mais
forte do que os que havia até agora. O choque, inclusive, levou o “centro” a
acelerar suas articulações por uma candidatura competitiva. Como a extrema
direita que governa o Brasil desde 2019 vai reagir?
No
dia do discurso
de Lula, a reação de Bolsonaro foi de evidente terror. Pela primeira vez em
muito tempo, apareceu
de máscara em uma solenidade pública. Não tenho nenhuma dúvida de que seu
pessoal nas redes sociais notou que as declarações ponderadas de Lula sobre
vacinas e máscaras foram bem-recebidas pelo público.
Seria maravilhoso se a ameaça Lula forçasse Bolsonaro a finalmente começar a se comportar como presidente da República, mas talvez seja tarde demais. Se Jair acordou na quinta-feira decidido a se comportar como um estadista responsável para derrotar Lula, imediatamente deve ter percebido que o Jair de 2020 não comprou as vacinas que um Jair responsável de 2021 teria que aplicar. Como a única outra alternativa de combate à Covid-19, o lockdown, prejudicaria o Jair candidato de 2022, não sobrou nada de responsável para qualquer Jair fazer no Brasil da pandemia.
Sempre
trabalhando com a premissa testada e provada de que Bolsonaro não fará a coisa
certa, o que lhe restará? No momento, seu plano parece simples: incapaz de
achar um cenário de combate à pandemia que lhe beneficie eleitoralmente,
Bolsonaro vai deixar os brasileiros morrerem na fila da UTI e falar de outra
coisa.
Jair
sabe que sua popularidade vai cair, mas aposta que não chegará a níveis de
rejeição que o tornem eleitoralmente inviável. E conta que a vacinação,
eventualmente, permitirá a recuperação econômica antes da eleição.
Se
você quer fazer uma aposta sem qualquer chance de perder, aposte que Paulo
Guedes e Bolsonaro vão dizer que causaram a recuperação econômica
gerada pela vacinação que sabotaram desde o início.
O
que é muito menos seguro é cravar se Guedes dirá isso como ministro ou como
ex-ministro. Bolsonaro certamente gostaria de substitui-lo por um ministro
gastador, mas o resultado eleitoral seria incerto. Certamente haveria
turbulência no mercado, ela bateria no dólar, o dólar bateria nos preços, os
preços bateriam nos juros, e os juros bateriam no desempenho econômico. Talvez
isso melhorasse com o tempo, mas Bolsonaro tem cada vez menos tempo até a
eleição.
A
única certeza sobre isso tudo é que Jair Bolsonaro não perderá eleição para
agradar a turma de Guedes.
Mas
a maior certeza sobre o que Bolsonaro fará agora que a competição eleitoral
ficou mais acirrada é que jogará muito, muito sujo.
Causará
estrago enorme ao Brasil. Voltará a ameaçar golpe de Estado —já o fez na live
de quinta-feira—
aparelhará as Forças Armadas, destruirá a credibilidade de órgãos públicos,
atacará a imprensa livre, disseminará notícias falsas, incentivará o conflito e
a instabilidade social, enfim, fará o Brasil pagar o preço de não tê-lo
impichado.
Mesmo para gente que já se comportou com dignidade em outros momentos da vida, é difícil fazê-lo na hora da derrota. Imaginem para Jair Bolsonaro.
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