Acuado,
Bolsonaro procura saídas
Que
condições impôs a cardiologista Ludhmila Hajjar para aceitar substituir o
general Eduardo Pazuello como ministra da Saúde? Ao presidente Jair Bolsonaro,
com quem se reuniu, ontem, no Palácio da Alvorada, o que ela pediu equivale ao
feijão com arroz.
Em
resumo, pediu autonomia para formar sua equipe e adotar à frente do ministério
a política que achar adequada para, de saída, deter o agravamento da pandemia
que bate recordes diários em número de mortos. Autonomia e vacina, vacina,
vacina.
Mais
adiante, se os resultados forem bons, se pensará no resto. Mas com o sistema
público e privado de atendimento médico às vésperas de um colapso, com pacientes
internados até em banheiros de hospitais, não há outra prioridade. Simples
assim.
Simples para quem é do ramo, e simples de ser entendido por quem tem amor à vida alheia. Bolsonaro provou que esse não é o seu caso. Mortes não lhe importam se o preço a ser pago para diminuí-las prejudica a economia e seu projeto de reeleição.
Antes,
durante e depois de conversar com a médica, Bolsonaro recebeu dos seus
correspondentes ideológicos por toda parte mensagens e vídeos com declarações
de Hajjar a respeito da pandemia que a desqualificam para a tarefa.
Em
um dos vídeos ela aparece dizendo que até aqui o governo só tem errado no
combate ao vírus. Errou por não tê-lo levado a sério desde o início, errou ao
recomendar o uso de remédios sem eficácia comprovada e errou ao defender
tratamento precoce.
Naturalmente,
seu maior erro foi não correr cedo atrás de vacinas como outros governos
fizeram. Quer dizer: Hajjar pensa o oposto de Bolsonaro. Pazuello pode pensar
também, mas ele considera que manda quem pode, obedece quem tem juízo.
A
médica tem juízo, mas quer obedecer ao que aprendeu ao longo de uma trajetória
elogiada por todos os seus pares. Aí mora a diferença. Bolsonaro estará pronto
para nomear ministro da Saúde ou de qualquer outra pasta quem pense diferente
dele?
Logo
se saberá. O que se sabe desde o final da tarde de ontem é que Pazuello está
bem de saúde como mandou dizer, e que não pediu para sair. Se o presidente, que
o convocou para o lugar, quiser removê-lo, Pazuello lhe baterá continência e
irá embora.
Mas
aparentemente quer ficar. Menos porque esteja convencido de que realizou um
grande trabalho ou de que poderá realizá-lo apesar de tudo. O general está
sendo investigado e receia ter que responder a dezenas de processos se for
demitido.
Uma
coisa seria respondê-los no exercício do cargo, o que lhe garante o direito de
só ser processado pelo Supremo Tribunal Federal. Fora do cargo, os processos
irão para a primeira instância e qualquer juiz, no limite, poderá prendê-lo.
Um
general de quatro estrelas, da ativa, preso? No Brasil, só os generais prendem
generais. Em outros países do continente, autoridades civis puseram generais
atrás das grades, embora com todo conforto. E presidentes depostos. E
ex-presidentes.
A
desaprovação a Bolsonaro e ao seu governo está em alta. Sempre que se sente
acuado, ele entrega cabeças para salvar a sua e a dos três filhos zero. Entrou
em cena o quarto zero – Jair Renan Bolsonaro, lobista. É mais uma cabeça a ser
preservada.
Sequer
passou uma semana da estreia de Lula livre das condenações que o impediam de
ser candidato, e Bolsonaro está em lençóis encharcados de suor. Não seria
exagero concluir que Lula aos pouquinhos já começa a governar.
Centrão
dá as cartas e o governo Bolsonaro obedece
Pelo
bem do país...
Quando
enxerga algo que possa render bons dividendos para o país, o senador Ciro
Nogueira (PI), presidente do PP e um dos líderes mais destacados do Centrão que
sustenta o governo Bolsonaro, não resiste e acaba se metendo. É o jeito dele.
Segundo
a Folha, na semana passada apareceu na agenda de Tarcísio Freitas, ministro da
Infraestrutura, que ele receberia o presidente da Federação Brasileira de
Bancos para tratar da desburocratização do mercado de financiamento de
veículos.
Nogueira
foi relator do Código Nacional de Trânsito que tramitou durante dois anos no
Senado. Tem especial apreço por financiamento de veículos, um mercado
bilionário. Seu apreço só é maior pelas prerrogativas do Poder Legislativo.
Pois
ele viu na reunião a intenção oculta do presidente da Federação de Bancos em
atropelar o Legislativo, tanto mais na semana em que seria votada a emenda à
Constituição que garantiria o pagamento do auxílio emergencial aos mais pobres.
O
que uma coisa teria a ver com a outra não se sabe, talvez só Nogueira. Sua
reclamação acabou por cancelar a reunião. O Centrão está cada vez mais
poderoso, e o governo, refém dele.
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