Para
políticos, como presidente da Assembleia, governador pode concorrer a deputado
ou ir para o TCE
A
montagem de um palanque estadual do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em
seu próprio reduto, o Rio de Janeiro, para a eleição de 2022, tem encontrado
dificuldades que esbarram na capacidade do governador em exercício Cláudio
Castro (PSC) de se viabilizar eleitoralmente. Fontes consultadas pelo Valor afirmam que Castro,
por não ter posição e imagem consolidadas, corre o risco de ficar sem os
aliados mais desejados, aumentando a probabilidade de não concorrer à
reeleição. Nas últimas semanas, uma pesquisa com o nome do ministro da Defesa,
general Braga Netto, já havia circulado nos bastidores como alternativa no
campo bolsonarista quando se levantou ainda a hipótese de que Castro concorra a
deputado federal ou venha a preencher uma vaga de conselheiro do Tribunal de
Contas do Estado (TCE).
Potencial beneficiário desse cenário, pois assumiria o Palácio Guanabara, o presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), André Ceciliano (PT), afirma que a vaga do conselheiro afastado por corrupção Aloysio Neves, a ser aberta no máximo até fevereiro, já está reservada para o deputado estadual Márcio Pacheco (PSC). Mas ressalta que o parlamentar “é um aliado” do governador, de quem Castro foi chefe de gabinete no início da carreira. “Vaga se constrói”, afirma. Ainda que não seja para essa, lembra o petista, outras vagas podem se abrir em breve, caso o Supremo Tribunal Federal (STF) autorize o pedido de aposentadoria antecipada de Neves, levando outros conselheiros afastados a demandar o mesmo benefício. Em 2017, cinco integrantes do TCE foram presos e afastados da função na operação Quinto do Ouro.
Ceciliano
conta que já sonhou “muito” com uma vaga no TCE, por oferecer aposentadoria aos
75 anos, remuneração mensal em torno dos R$ 50 mil e mais de 50 cargos à
disposição - uma situação que poderia pesar na eventual decisão de Castro, que
também já teria manifestado vontade de concorrer a deputado federal, diz. “É um
poder imenso [no TCE]. Há algum tempo brincavam que era ir para o céu sem
morrer”, afirma. Outra vantagem, acrescenta, é que, no tribunal, Castro teria
“tranquilidade”. “Porque ele tem problemas judiciais como muitos políticos
têm”, lembra.
O
Ministério Público investiga o suposto recebimento de uma propina de R$ 100 mil
que teria sido paga por uma empresa com contratos com a Fundação Leão XIII,
quando ele era vice-governador de Wilson Witzel (PSC), afastado por corrupção
desde agosto. Castro nega. O julgamento do processo de impeachment contra
Witzel está marcado para sexta-feira e se sete dos dez integrantes do Tribunal Especial
Misto o condenarem o governador em exercício assume o posto em definitivo.
Ceciliano
diz que está “longe de comparar” Castro a Sérgio Cabral, preso desde 2016 por
corrupção, mas lembra que o ex-governador não quis concorrer a deputado
federal, ficou sem prerrogativa de foro e se tornou um alvo mais fácil da
Justiça. “Se tivesse mandato, o problema dele seria bem diferente”, aponta.
Para
o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, outros fatores políticos podem
contar para a eventual decisão de Castro não concorrer, como a retirada de
apoio do clã Bolsonaro. “É bem provável que inventem outro candidato. Mas
qualquer um do campo bolsonarista não será forte. Eles vão voltar ao gueto que
sempre tiveram, entre 12% e 15%”, diz. O pedetista, porém, acha difícil que
Castro saia antecipadamente para evitar entregar o cargo para um petista e a
esquerda: “Provavelmente ele não saia candidato. Mas pode simplesmente ficar no
governo até o fim”.
O
ex-deputado federal Rodrigo Bethlem, que tem prestado consultoria estratégica
eventual para Castro, diz que o governador vai ser um “candidato natural” à
reeleição e que, a partir de sexta-feira, com o julgamento de Witzel, é que
poderá exercer o cargo de fato e de direito. Além disso, passará a ter recursos
para investimentos com a concessão da Cedae - cujo leilão também será na sexta
- e uma folga financeira com a esperada renovação do Regime de Recuperação
Fiscal, que alonga as dívidas do Estado com a União. Para Bethlem, Castro não
tem no horizonte como adversário um “candidato nato”, como Eduardo Paes (DEM)
que retomou a prefeitura da capital e impediu a reeleição de Marcelo Crivella
(Republicanos) no ano passado. “Ele [Castro] é o maior inimigo dele mesmo”,
diz.
No
momento, o governador é visto como pouco competitivo e sem o perfil combativo
que se espera em meio à polarização nacional entre Bolsonaro e o ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Para o deputado federal bolsonarista Otoni de
Paula (PSC-RJ), pré-candidato ao Senado, o problema é que Castro “tem a força
da máquina do governo, mas não tem força política”, um grupo definido de
aliados, e “vive nessa corda bamba”. Depois da divulgação da notícia de que o
governador pode desistir, o parlamentar procurou Bolsonaro para arguir se o
presidente dará apoio a ele. “O Cláudio está na campanha à reeleição. Pode ser
que os ventos mudem lá na frente. Mas com toda a limitação que ele possa ter,
está no páreo, porque tem a máquina na mão”, diz.
Lupi
relativiza: “Depende, às vezes o candidato tem uma máquina administrativa, pode
ser uma Ferrari, mas não tem combustível. O governo do Rio hoje é um carrinho
de mão. O Estado mal paga salário. Reeleição é plebiscito. O governador vai
mostrar o quê? Acho pouquíssimo provável que ele concorra”, afirma o dirigente,
cujo partido tem como pré-candidato o ex-prefeito de Niterói Rodrigo Neves.
Para Otoni, o maior desafio de Castro atualmente é conseguir se reaproximar do PSL, ex-partido de Bolsonaro. No entanto, o presidente estadual da legenda, deputado federal Sargento Gurgel, quer distância do governador. “Hoje a tendência é não apoiá-lo, eu já decidi como presidente. O que ouço é que ele não tem musculatura”, afirma o parlamentar, lembrando que recentemente provocou Castro em suas redes sociais, dizendo que o destino dele seria o de concorrer a vereador, cargo que exerceu antes de se eleger vice-governador em 2018. Uma fonte que preferiu o anonimato afirma: “Se eu fosse apostar, diria que ele vai para o tribunal [TCE].” Procurado, Castro preferiu não se manifestar.
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