Representatividade
e inclusão importam. Esse precisa ser nosso ponto de partida em comum para
iniciar um debate que, à primeira vista, parece desimportante, mas é, ao
contrário, um planejamento de futuro da maior parcela da população brasileira:
a mulher negra. Ela representa algo em torno de 27% de todos os brasileiros,
segundo a PNAD do IBGE.
Entretanto
o mercado não oferece o mínimo razoável de opções para um nicho das bonecas,
que tem gerado bons dividendos para quem nele investe. Em 2018, a linha correspondia
a 19,2% do total de faturamento, que chegou em 2019 a mais de R$ 7 bilhões,
conforme o último relatório da Abrinq.
Com um cenário tão favorável, a lógica seria haver uma seção específica para bonecas negras, atendendo a esse mercado consumidor. Todavia elas correspondem a somente 6% da totalidade das fabricadas e 9% das comercializadas em lojas on-line, de acordo com a ONG Avante, que elaborou um relatório sobre essa triste realidade das meninas negras brasileiras.
Ao
entrar numa loja de brinquedos, a criança, que precisa de um referencial para
construir sua autoimagem, não tem acesso ao mínimo. Dentro de uma perspectiva
psicológica, a mudança ocorrida a partir do contato com um brinquedo parecido
consigo mostra a oportunidade de sonhar mais concretamente, gera uma sensação
de pertencimento, que traz efeitos de maior segurança para desenvolver suas
potencialidades no futuro.
Infelizmente,
o Brasil revela a cruel exclusão do negro, desde o início da vida, com a
ausência de opções. Se não somos vistos nos lugares, evidencia-se que esses
espaços não são para nós.
Mas,
se tem mercado consumidor e demanda, qual a justificativa racional para tamanho
desperdício de oportunidade?
Por
isso, é importante buscar diversidade na oferta, tendo em vista que nossas crianças
querem ser vistas, ouvidas e incluídas na sociedade como um todo. Mas é
necessário ir além: não basta colocar qualquer boneca, com qualquer história
por trás. O imprescindível é levar boas referências para as meninas negras, com
princesas e heroínas, médicas e engenheiras, advogadas e juízas...
Mas,
para que isso ocorra, é relevante também estar atento para não impedir o acesso
dos mais pobres a esse tipo de bem. Uma rápida pesquisa em sites de lojas de
brinquedo apresenta um fenômeno perverso relativamente ao preço das bonecas
negras, que acaba sendo elevado significativamente, em comparação com as
brancas, pelo fato de serem raridade nas prateleiras.
Felizmente,
a própria comunidade negra, ciente de suas necessidades, vem trabalhando no
sentido de valorizar a produção e a comercialização do brinquedo voltado para
um público tão grande quanto especial. Isso já foi sentido pelas grandes
marcas, que também abriram espaço a novas personagens e a novas linhas de
atuação.
Portanto, devemos fortalecer tais iniciativas e fazer com que elas possam crescer e florescer, levando o encanto dos sonhos, fazendo nascer sorrisos genuínos nos rostos de nossas lindas meninas negras.
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