Tantas
milhares de mortes depois, qualquer cidadão menos tapado se pergunta qual seria
o Deus (ou deus) em que acredita o Bozo. O Malafaia, que ganha dinheiro nessa
seara, e é seu conselheiro, ao deixar de ler o livro-caixa, ajoelhado no milho,
teria a resposta?
John
Gray, filósofo britânico, em seu estupendo “Sete tipos de ateísmo”, ajuda a
matar a charada. Bozo pertence em carne e osso à categoria dos seres
pré-adâmicos. Ainda na Renascença, Paracelso e depois Isaac La Peyrère
extraíram do “Gênesis” a interpretação de que a Terra já era habitada por
outros homens antes da chegada barulhenta de Adão. Como não eram criação
divina, vieram destituídos de alma; daí sua falta de empatia com o destino das
criaturas de Deus.
Taí.
Como os neandertais, os pré-adâmicos continuam entre nós, miscigenados. Embora
disfarce com o Messias no nome, Bozo, rematado (nasceu sem alma) representante
da espécie, deu voz a seu exército saído das trevas.
Como existe um lulopetismo, há à mão a bozofrenia — hoje uma síntese de atraso, ignorância e falta de asseio mental, curiosamente mesclado a um autoritarismo cristão. Sem ser uma ideologia, não deixa de ser um sistema de ideias do contra, amarfanhadas para negar a expectativa de haver uma evolução humana.
Negam
o conceito de progresso e desenvolvimento contínuos. Não há um processo
histórico, apenas histérico (como, aliás, Marco Aurélio, não o do STF, mas o
imperador romano e filósofo estoico, reclamava das epifanias cristãs).
Em
luta contra o progresso, a bozofrenia se porta como os luditas em confronto com
as máquinas no início da Revolução Industrial. Enxerga na ciência, na cultura e
na concórdia de valores o inimigo a destruir… — quase escrevi o diabo a
derrotar, mas, no caso, seria dar um tiro no pé.
O
método bozofrênico se assemelha a várias seitas anteriores a Jesus Cristo,
todas desconfiadas da impossibilidade de aprimoramento humano. Acostumados a
jejum em meio ao deserto, as alucinações dos malucos ainda são tomadas como
milagres por alguns, porém os bozofrênicos praticam a visão deles de um ato apocalíptico
baseado na destruição.
A
destruição é o objetivo final. Por isso, entre outras coisas, exigem fiéis nos
cultos na alta temporada da Covid-19. Não há culpa, nem empatia, porque são
pré-Dez Mandamentos (não matarás, não roubarás). Quero todo mundo armado! Vamos
passar a boiada!
A
dicotomia inventada pela bozofrenia também é falsa. Falam em economia x saúde.
Você ouve Paulo Guedes e ali sente alguma empatia? Autointitulado seguidor da
Escola de Chicago (a que matou mais gente que Al Capone), é um pregador morto,
ultrapassado em vida pela história. Ou como ele explica a política econômica de
Biden, com seus trilhões, e mesmo de Angela Merkel? Não ouvi o Guedes criticar
os privilégios das aposentadorias dos militares, você ouviu ele lutar por
aumento de verbas na educação? Na escala bozofrênica, a filha solteira dos
milicos é mais importante. Ok, Guedes não é um posto elétrico; é fóssil.
Não
é de estranhar a foto (oficial) de Ricardo Salles diante das toras abatidas de
madeira. No país de Tom Jobim e Guimarães Rosa! Solta a boiada e persegue a
destruição. Salles sabe que um hectare de plantação sustentável como o açaí
rende mais do que um hectare como pasto para gado. Não percebe na bovinice de
Pazuello o mesmo matadouro que terá de enfrentar em breve.
Como,
no Brasil, o roteirista é mal pago, o lulopetismo se coloca como alternativa e
salvação. Você lê o plano de Biden para transição climática, de apoio a
energias renováveis e processos industriais sustentáveis, só que, de repente,
volta à lembrança o discurso de que o pré-sal seria um bilhete premiado. Aquilo
deve ter sido ideia do Cerveró… No mesmo instante em que a China ultrapassava a
Alemanha no uso de energia solar e produção de baterias para carros elétricos.
Lembra ainda o apoio financeiro dado à Odebrecht em obras na Venezuela e a
escolha estratégica da JBS para ser uma multinacional do bife.
Parece haver uma conexão — não divina, mas pré-adâmica e bozofrênica.
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