Kassio
e milhões agem como se a epidemia fosse uma fatalidade imposta por Deus
A liminar
do ministro Kassio Nunes Marques, do STF, que liberava a presença do
público em cerimônias religiosas é um contrassenso, sintomático de quem
ainda não
entendeu bem o que está acontecendo no país.
O raciocínio marquiano parte de um elemento de verdade. Os decretos anti-Covid-19 de governadores e prefeitos limitam a liberdade religiosa. Mas não só. Também limitam a liberdade de ir e vir, de reunir-se pacificamente etc. E é o que se espera que façam. Os decretos, afinal, estão baseados numa lei de emergência sanitária, que tem o propósito explícito de limitar temporariamente direitos para conter a epidemia.
Rezar
é, de todas as atividades humanas, a mais facilmente adaptável para o “home
office” —se Deus existe e é onipresente, como quer a tradição, ouve preces de
qualquer lugar que sejam feitas. Diante de uma entidade assim tão poderosa, o
papel que resta às igrejas é muito menos o de estabelecer a comunicação com o
divino do que o de favorecer uma vida comunitária significativa para os fiéis.
Assim,
os religiosos só teriam motivo para queixa se os templos estivessem recebendo
das autoridades terrenas um tratamento menos favorável que o dispensado a
outros negócios que promovem contatos sociais positivos, como clubes e grêmios
recreativos. Não sendo esse o caso, a liminar só cria uma exceção
injustificável para templos.
Nunes
Marques, porém, não está sozinho. Ele e milhões de brasileiros continuam agindo
como se a epidemia fosse uma fatalidade imposta por Deus e não a expressão
matemática de interações sociais desprotegidas entre portadores do Sars-CoV-2 e
suscetíveis. Como ainda permaneceremos meses sem vacinas nas quantidades
necessárias, o único jeito de reduzir o contágio é reduzir essas interações.
Enquanto os brasileiros, em especial autoridades como Marques, não entenderem isso, continuaremos colecionando milhares de mortos por dia.
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