Paulo
Cappelli / O Globo
BRASÍLIA —
Com políticos do MDB que defendem uma candidatura do próprio partido à
Presidência, outros que sustentam o apoio a Lula, e ainda com parcela que tem
preferência por Bolsonaro, a legenda inicia de forma mais incisiva, este mês,
discussões para definir qual será a posição oficial da sigla na eleição do ano
que vem. Presidente nacional do MDB, Baleia Rossi (SP) afirmou ao GLOBO que, no
momento, o apoio a Lula ou Bolsonaro estão descartados, pois essas hipóteses,
diz, sequer estão sendo aventadas nas conversas envolvendo a cúpula do partido.
Baleia afirma que o consenso é o lançamento de uma candidatura própria. E
acredita que, caso um nome da sigla não venha a se mostrar competitivo, o
melhor caminho para o MDB seria abraçar uma candidatura externa de centro, como
João Doria (PSDB-SP), Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS) ou Luciano Huck (sem
partido).
Para Baleia, Doria é nacionalmente reconhecido pelo empenho na vacinação contra a Covid-19, mas precisaria melhorar sua popularidade na própria São Paulo para se tornar viável no ano que vem. Mandetta, por sua vez, é visto pelo dirigente emedebista como um nome que ganhou projeção ao participar dos debates quando era ministro da Saúde e tem a imagem associada à defesa da ciência. Já Huck seria eleitoralmente um bom nome, de fácil assimilação, mas precisaria demonstrar mais interesse no pleito presidencial.
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Esses três nomes estão em pé de igualdade. E não temos discutido internamente o
apoio a Lula ou Bolsonaro. A decisão interna é por uma terceira via. Um
candidato mais ao centro, mais equilibrado, que entregue mais e tenha mais
empatia com a população, que são as características do MDB. Hoje está
descartado o apoio a Lula ou Bolsonaro — disse Baleia, ressaltando,
contudo, que começará este mês a fazer consultas formais a deputados federais,
senadores e presidentes estaduais dos partido sobre 2022.
Em
conversas com dirigentes dos partidos, Baleia tem dito que o MDB "seria
prejudicado" se "caminhasse com algum dos extremos". O
presidente da sigla reconhece que há políticos influentes da legenda que
defendem apoio a Lula, principalmente no Nordeste, e a Bolsonaro, especialmente
no Sul, e sustenta que uma forma de unificar o partido seria lançar uma
candidatura da própria legenda. Ele afirma já ter conversado com o ex-presidente
Michel Temer sobre entrar na disputa, mas que isso foi descartado. E, nesse
cenário, o nome ao qual se refere com mais entusiasmo é o da senadora Simone
Tebet (MS), embora também cite os governadores Renan Filho, de Alagoas, e
Ibaneis Rocha, do Distrito Federal.
—
A Simone tem muito potencial para crescer. Foi a primeira mulher candidata à
presidência do Senado e se saiu muito bem este ano — avalia.
Mas
a defesa de uma candidatura própria tem dificuldades internas. O senador Renan
Calheiros (MDB-AL), por sua vez, afirma que o partido só poderia ir para esse
rumo caso ela venha a se mostrar viável do ponto de vista eleitoral.
—
Nós, do MDB, sonhamos há muitos anos em ter candidatura própria e competitiva à
Presidência, porque isso ajuda a alavancar os palanques regionais. É o que
queremos. Em 2020, fomos o partido que mais elegeu prefeitos nas capitais e
grandes cidades. Temos vitalidade para isso. Mas lançar um nome sem
competitividade à Presidência, como na eleição passada (quando Henrique
Meirelles foi candidato), não adianta. Em vez de ajudar, só atrapalha os
palanques regionais. Por isso, temos que aguardar para ver se nosso nome para
2022 vai se corporificar na sociedade, atrair partidos — avaliou o
senador, que defende o apoio a Lula.
—
Sinceramente, acho que o apoio do MDB a uma dessas candidaturas alternativas de
centro é um caminho difícil de acontecer. Lula leva vantagem sobre Doria, Huck
e Mandetta não apenas pela polarização com Bolsonaro ou pela probabilidade mais
alta de ganhar. É pelo próprio perfil do Lula, que atrai o centro no qual o MDB
está inserido. É uma tendência o meu apoio a ele caso o MDB não tenha candidato,
mas ainda não posso colocar como uma coisa consumada.
Já
no Sul, o partido é mais alinhado ao presidente Jair Bolsonaro. O deputado
federal Osmar Terra (RS) chegou a ser ministro de Bolsonaro e tem participado
de eventos com o presidente, como inaugurações de escolas cívico militares.
Citada
por Baleia como possível presidenciável, a senadora Simone Tebet afirma ser
necessário o MDB participar de um debate com os partidos de centro sobre a
construção de uma terceira via.
—
O MDB tem todas as condições de ter uma candidatura própria. Mas acho que o
mais importante é estarmos na mesa de discussão com os demais partidos de
centro. Seja para definirmos um nome próprio, compor com alguma chapa... A
sociedade brasileira cansou do radicalismo e da polarização e está entendendo
que política se faz pelo caminho do meio, do equilíbrio — avalia a
senadora.
No Senado, dois emedebistas são líderes do governo Bolsonaro: Eduardo Gomes, que faz a interlocução do Planalto junto ao Congresso, e Luiz Fernando Bezerra, que lidera o governo junto ao Senado. Dirigentes do MDB, contudo, minimizam o fato, pois afirmam se tratar de relações pessoais de Bolsonaro com os parlamentares, não tendo o aval do partido. Caciques da legenda destacam que nem Gomes nem Bezerra comandam os diretórios de seus respectivos estados.
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