terça-feira, 6 de abril de 2021

PSOL resiste a aliança eleitoral de Freixo com Maia e Paes

Executiva do partido no Rio se reunirá nesta terça e tende a esfriar possibilidade de chapa com o centro. Colega na Câmara, Glauber Braga diz que tentativa não tem ‘respaldo’

Bernardo Mello e Paulo Cappelli / O Globo

RIO E BRASÍLIA - Em reunião marcada para a noite desta terça-feira, o diretório estadual do PSOL no Rio deve se manifestar sobre a possibilidade de formar aliança em 2022 com nomes do centro, como o ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM-RJ) e o prefeito do Rio, Eduardo Paes (DEM). A tendência, segundo fontes do partido, é de uma sinalização na contramão do acordo desenhado pelo deputado psolista Marcelo Freixo para concorrer ao governo do estado. Ontem, Freixo disse ao GLOBO que, além das conversas com siglas da esquerda, vem tratando da formação de uma frente anti-bolsonarista com Paes e Maia, antigos adversários do PSOL.

Internamente, membros do PSOL receberam de forma fria a articulação de Freixo e apontaram que o deputado ainda não tem maioria interna para uma aliança fora da esquerda. O deputado federal Glauber Braga (RJ), colega de Freixo na Câmara, criticou a hipótese de uma costura com Paes e Maia e lembrou que o PSOL se coloca até hoje como oposição a ambos na política fluminense. Sem citar o nome de Freixo, Braga disse que a aliança seria “totalmente descabida”.

— Uma tentativa como essa não encontra respaldo em nenhum campo que componha o PSOL de maneira minimamente sólida — afirmou.

Ao GLOBO, Freixo havia declarado ontem que está disposto a debater no partido a busca por apoios fora da esquerda. O diálogo poderia incluir também integrantes de siglas como PSDB e MDB que venham se colocando como oposição ao presidente Jair Bolsonaro. Segundo Freixo, a formação de uma frente ampla, única condição em que toparia ser candidato ao governo, seria também um imperativo para “vencer o bolsonarismo, o que vai além dos limites de qualquer partido”.

O PSOL, que já chegou a proibir textualmente alianças com o centro, autorizou apenas em 2020 acordos com partidos de esquerda, como PT, PDT e PSB, sem necessidade do aval da direção nacional. Para integrantes do partido, há questões “inconciliáveis” com siglas como DEM e PSDB, especialmente na pauta econômica, o que causa rejeição na base partidária. Em resolução publicada no último mês, a direção nacional do PSOL defendeu, por ora, a “unidade das esquerdas” em 2022, sinalizando um possível apoio ao ex-presidente Lula (PT).

“Decisão coletiva”

Segundo o vereador Chico Alencar, o PSOL buscará uma decisão coletiva sobre alianças. Ele afirma que o “PSOL busca ser partido, e não ‘marca’ para trajetórias individuais”.

— Qualquer um de nós, parlamentares, tem todo o direito de apresentar suas visões, inclusive de política de alianças. O diretório se reunirá para avaliar cenários para 2022 e depois, numa reunião ampliada, Freixo poderá apresentar sua ideia de aproximação até eleitoral com a centro-direita, inédita no partido — afirmou.

Antecipando um possível impasse entre Freixo e PSOL, partidos da centro-esquerda têm sinalizado disposição em abrigar o deputado.

— Freixo e eu mantemos conversas no sentido de uma aliança ampla, que esbarra nos planos de muita gente no PSOL— afirmou o presidente do PDT, Carlos Lupi.

Segundo a presidente do diretório do PSOL no Rio, Carol Castro, a reunião desta terça-feira tratará de "prioridades no momento (que) são o enfrentamento a Bolsonaro e a Cláudio Castro", além do combate à pandemia, e que o debate sobre alianças ainda "precisa ser amadurecido, respeitando as instâncias internas e o tempo de formulação do partido". Ela afirma ainda que o debate sobre 2022 envolverá Freixo e "demais figuras públicas do partido".

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