Bernardo
Mello e Paulo Cappelli / O Globo
RIO
E BRASÍLIA - Em reunião marcada para a noite desta terça-feira, o diretório
estadual do PSOL no Rio deve se manifestar sobre a possibilidade de formar
aliança em 2022 com nomes do centro, como o ex-presidente da Câmara Rodrigo
Maia (DEM-RJ) e o prefeito do Rio, Eduardo Paes (DEM). A tendência, segundo
fontes do partido, é de uma sinalização na contramão do acordo desenhado pelo
deputado psolista Marcelo Freixo para concorrer ao governo do estado. Ontem,
Freixo disse ao GLOBO que, além das conversas com siglas da esquerda, vem
tratando da formação de uma frente anti-bolsonarista com Paes e Maia, antigos
adversários do PSOL.
Internamente, membros do PSOL receberam de forma fria a articulação de Freixo e apontaram que o deputado ainda não tem maioria interna para uma aliança fora da esquerda. O deputado federal Glauber Braga (RJ), colega de Freixo na Câmara, criticou a hipótese de uma costura com Paes e Maia e lembrou que o PSOL se coloca até hoje como oposição a ambos na política fluminense. Sem citar o nome de Freixo, Braga disse que a aliança seria “totalmente descabida”.
—
Uma tentativa como essa não encontra respaldo em nenhum campo que componha o
PSOL de maneira minimamente sólida — afirmou.
Ao
GLOBO, Freixo havia declarado ontem que está disposto a debater no partido a
busca por apoios fora da esquerda. O diálogo poderia incluir também integrantes
de siglas como PSDB e MDB que venham se colocando como oposição ao presidente
Jair Bolsonaro. Segundo Freixo, a formação de uma frente ampla, única condição
em que toparia ser candidato ao governo, seria também um imperativo para
“vencer o bolsonarismo, o que vai além dos limites de qualquer partido”.
O
PSOL, que já chegou a proibir textualmente alianças com o centro, autorizou
apenas em 2020 acordos com partidos de esquerda, como PT, PDT e PSB, sem
necessidade do aval da direção nacional. Para integrantes do partido, há
questões “inconciliáveis” com siglas como DEM e PSDB, especialmente na pauta
econômica, o que causa rejeição na base partidária. Em resolução publicada no
último mês, a direção nacional do PSOL defendeu, por ora, a “unidade das
esquerdas” em 2022, sinalizando um possível apoio ao ex-presidente Lula (PT).
“Decisão
coletiva”
Segundo
o vereador Chico Alencar, o PSOL buscará uma decisão coletiva sobre alianças.
Ele afirma que o “PSOL busca ser partido, e não ‘marca’ para trajetórias
individuais”.
—
Qualquer um de nós, parlamentares, tem todo o direito de apresentar suas
visões, inclusive de política de alianças. O diretório se reunirá para avaliar
cenários para 2022 e depois, numa reunião ampliada, Freixo poderá apresentar
sua ideia de aproximação até eleitoral com a centro-direita, inédita no partido
— afirmou.
Antecipando
um possível impasse entre Freixo e PSOL, partidos da centro-esquerda têm
sinalizado disposição em abrigar o deputado.
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Freixo e eu mantemos conversas no sentido de uma aliança ampla, que esbarra nos
planos de muita gente no PSOL— afirmou o presidente do PDT, Carlos Lupi.
Segundo a presidente do diretório do PSOL no Rio, Carol Castro, a reunião desta terça-feira tratará de "prioridades no momento (que) são o enfrentamento a Bolsonaro e a Cláudio Castro", além do combate à pandemia, e que o debate sobre alianças ainda "precisa ser amadurecido, respeitando as instâncias internas e o tempo de formulação do partido". Ela afirma ainda que o debate sobre 2022 envolverá Freixo e "demais figuras públicas do partido".
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