Mara
Gabrilli seria uma “boa vice”, diz Mandetta a tucano
Um
político experiente que opera no circuito Brasília-São Paulo vê a corrida
presidencial de 2022 como uma prova de resistência, e não de velocidade. Nesse
quesito, o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, presidenciável do DEM,
estaria com fôlego de atleta.
Depois
de suportar as nove horas de depoimento aos senadores da CPI da Pandemia na
semana passada, Mandetta submeteu-se ontem ao escrutínio de um público
igualmente severo e influente nas eleições. O ex-ministro foi ouvido durante
quase três horas pelos membros da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), que
reúne parte importante do empresariado paulista.
A
coluna procurou representantes da entidade que assistiram à conferência do
pré-candidato, que não foi aberta à imprensa ou ao público em geral. Ouviu que
Mandetta surpreendeu positivamente ao não restringir sua fala ao cenário
pessimista sobre a pandemia, e revelar-se apto ao debate de outros temas
candentes, como a defesa da democracia, reforma tributária, educação, segurança
pública e combate à desigualdade.
Segundo relatos, Mandetta colocou-se como pré-candidato, mas, também, como cabo eleitoral influente. Pesquisa divulgada ontem pelo Instituto Atlas mostrou Mandetta empatado com o presidente Jair Bolsonaro no segundo turno, e numericamente à frente de Ciro Gomes (PDT).
“Estou
aqui para ajudar”, ofereceu-se na conversa com os empresários. Adiantou que, se
for para contribuir, retira o nome da disputa. “A não candidatura também é um
ato político de união para esse país”.
Idealizador
do manifesto pela consciência democrática, que reuniu os seis pré-candidatos à
Presidência, Mandetta fez um novo alerta ao tensionamento das instituições,
disse que é preciso garantir a realização das eleições no ano que vem com
lisura, e que não se tem dado atenção devida ao questionamento que vem sendo
feito à integridade das urnas eletrônicas.
Segundo
uma fonte que assistiu à palestra, sem citar Bolsonaro, Mandetta disse que a
exigência do voto impresso tem sido feita “quase como uma ameaça” de não se
aceitar o resultado, e completou que este pode mesmo não ser o que os
governistas esperam.
Sobre
a reforma tributária, Mandetta disse que se não houver uma liderança com
capacidade de negociação e diálogo para evitar a ampliação da carga tributária,
e em contraponto, assegurar leveza e simplicidade aos negócios, nada
acontecerá.
Ele
advertiu aos empresários que a tributação dos serviços é um alvo, e seria uma
saída “perversa”, diante da desindustrialização do país, e já que o agronegócio
tem uma blindagem política eficiente.
O
ex-ministro também alertou que está muito próxima a solução árida de novo ciclo
de aumento de taxa de juros, cenário adverso para os empresários que lidam com
crédito. Recomendou a aprovação do projeto de valorização do bom pagador.
A
coluna apurou que diretores da entidade reclamaram de não serem ouvidos na
discussão da reforma, e da iniciativa do presidente da Câmara, Arthur Lira
(PP-AL), de fatiar a proposta.
Convidado
para o evento, o cientista político Antonio Lavareda exortou Mandetta a
participar de um debate público com os demais presidenciáveis do centro
político para explicitar não a concordância entre eles, que é a defesa da
democracia, mas para explicitar as diferenças, o que ajudaria a afunilar a
disputa.
Mandetta
mostrou-se disposto ao embate público, mas aproveitou para rechaçar a crença
generalizada de que o centro é “amorfo”, sem luz própria. “Eu quero ser um
radical de centro, um radical de bom senso, radical de coisas bem feitas, um
radical de Brazilzão”, declarou, segundo relato de dois espectadores.
Mandetta
acrescentou que tem “pressa”, mas ponderou que o tempo da política difere para
cada um. Na presença do secretário especial do governo de São Paulo em
Brasília, Antonio Imbassahy, aguerrido aliado de João Doria, lembrou que há no
PSDB quem queira adiar as prévias do partido para março.
Completou
que a persistir a fragmentação do centro, o eleitor votará no pleito de 2022 em
quem odiar menos, e observou que não se pode construir um país baseado no ódio.
No
fim de abril, o Valor publicou uma pesquisa exclusiva, encomendada ao
Instituto Travessia, sobre as chances de sucesso de uma candidatura de centro.
Na pesquisa estimulada, 35% aderem a nomes desse espectro. Nesse conjunto,
Mandetta arrebata 2% dos votos.
Na
qualitativa, Mandetta se sobressaiu ao empatar com Luciano Huck: ambos são
considerados os mais simpáticos. Ao lado de Doria, desponta como o mais
trabalhador, e é o mais qualificado no debate da saúde.
Nas
qualitativas do DEM, é lembrado como homem de família (é casado há 32 anos), de
valores conservadores, com interlocução com o agronegócio, e com profissionais
da saúde. É considerado “mais brasileiro” do que o governador do Rio Grande do
Sul, Eduardo Leite (PSDB), porque o gaúcho “não expressa o sentimento de alguém
do Centro-Oeste”, disse à coluna um integrante da Executiva do DEM.
Mas
o DEM que fique atento, porque Mandetta está no radar de outros partidos. Um
cacique do MDB disse à coluna que o ex-ministro é um “belo quadro, com enredo
que, se bem construído, pode ter um diálogo bacana com a classe média”.
Quando
ainda havia a hipótese do ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia (RJ), de saída
do DEM, filiar-se ao MDB, lideranças emedebistas cogitaram o convite para que
Mandetta acompanhasse o aliado. O ex-ministro ouve críticas de que não pode se
apresentar como adversário de Bolsonaro em uma legenda que tem dois quadros no
governo: os ministros Onyx Lorenzoni e Tereza Cristina.
No fim da palestra, Mandetta propôs uma chapa: disse ao presidente da ACSP, Alfredo Cotait Neto, presidente do PSD paulista, que a senadora Mara Gabrilli (PSDB-SP) seria uma “vice tão boa, embaixadora internacional do Brasil”. Cotait é ex-senador e suplente de Gabrilli. Em tom gaiato, sugeriu a Imbassahy que consultasse o alto tucanato sobre a chapa.
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