Além
dos gabinetes do ódio e das trevas, o ‘Estadão’ revela mais um: o do orçamento
secreto
Sem
rumo e comando racional, o governo pode até ter ilhas de normalidade, mas, no
geral, é dividido entre ministérios onde “um manda e outro obedece” e três
“gabinetes” cercados de mistério: o do ódio, o das sombras (ou trevas) e
o gabinete secreto, revelado pelo Estadão, para jorrar dinheiro
público escondido para parlamentares aliados, sem informar o básico ao distinto
público que paga impostos: quem, como, onde e por quê.
O do “ódio” alimenta a turba bolsonarista com fake news a favor do governo e contra adversários, convocando atos golpistas contra o Supremo e seus ministros. Quando esses ministros puseram a cúpula do PT na cadeia pelo mensalão e confirmaram a prisão do ex-presidente Lula pelo petrolão, tudo ótimo. Mas, quando dão um basta no golpismo do presidente Jair Bolsonaro e seus seguidores, perderam a graça.
O das “sombras” não foi criado às pressas por causa da CPI da Covid. Ao contrário, foi graças à CPI que o Brasil descobriu que ele fora montado lá atrás, no início da pandemia, para anular o Ministério da Saúde. Existe para ditar as normas e executar o negacionismo e os caprichos de Bolsonaro na pandemia, contra tudo e todos, a ciência e a OMS.
Nenhum
médico, fosse Luiz Henrique Mandetta, Nelson Teich ou Marcelo
Queiroga, iria, em sã consciência, com suas faculdades mentais
preservadas, ignorar e fazer campanha, como o presidente faz, contra o uso de
máscaras, o isolamento e as vacinas para conter o vírus, preservar os sistemas
de saúde e salvar vidas. Só fica uma dúvida: esse grupo das trevas faz a cabeça
do presidente, ou só aplaude o que ele quer?
Agora,
depois de três meses de apuração, o repórter Breno Pires informa que
há um terceiro gabinete, gerenciando um orçamento secreto para satisfazer as
conveniências políticas de Bolsonaro e... comprar votos no Congresso. As
planilhas mostram curiosidades escandalosas e um certo protagonismo do
ex-presidente do Senado Davi
Alcolumbre, que dirigiu a distribuição de R$277 milhões, quantia que
ele levaria 34 anos de Senado para conseguir pelas emendas tradicionais.
Esse
“gabinete”, abrigado no Ministério do Desenvolvimento Regional, criou um
orçamento de R$ 3 bilhões em emendas parlamentares extras inclusive para tratores e outros equipamentos agrícolas. De um lote de 115
máquinas, só 12 registram preços dentro do limite estabelecido pelo próprio
ministério. E Alcolumbre, por exemplo, tem base política no Amapá, mas
direciona recursos também para o Paraná. Apesar da rima, não faz sentido.
Esses
“gabinetes”, o “secreto”, o do “ódio” e o das “sombras e trevas”, não devem ser
os únicos e agora estão focados no mesmo ponto: a CPI da Covid. O do “ódio”
atiça a militância na internet tentando desviar as atenções para governadores e
prefeitos. O das “trevas” mobiliza ministérios para fornecer aos governistas da
CPI uma mercadoria inexistente: argumentos para defender Bolsonaro nas várias
frentes de investigação, máscaras, isolamento, cloroquina, vacina...
E
o gabinete “secreto” amarra tudo, comprando votos e consciências. Se o general
da ativa Eduardo Pazuello entrou no jogo pela sabujice,
parlamentares que tentam tapar o sol com a peneira aderem por motivações mais
concretas, entre elas os tais tratores, ou a grana dos tratores.
Enquanto os três gabinetes se esfalfam, o presidente distrai a plateia de moto, parabeniza a polícia do Rio pela chacina que choca o mundo, acusa a China de promover “guerra química” e articula uma manobra à la Trump para 2022. Eleito sete vezes pelo voto digital, inclusive para a Presidência, ele ataca a urna eletrônica e enche o ambiente de tensão. Será que é só mesmo a favor do voto impresso, ou prepara um golpe contra os resultados da eleição?
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